Escrevo este artigo pela enorme preocupação que me suscita esta cruzada pelo hidrogénio, produção de gases de origem renovável, projecto megalómano e consumidor, conforme projecções governamentais, de cerca de metade dos fundos europeus atribuídos a fundo perdido.

Sou totalmente a favor da descarbonização da economia, da energia sustentável e da produção de energia verde, através de um correcto mix de modos de produção de energia: fontes renováveis, e em geral intermitentes, e fontes de energia fóssil.

A par da Dinamarca, Portugal é um “bom aluno” deste caminho verde, ultrapassando todos os objectivos legalmente estabelecidos, o que seria positivo se fôssemos um país rico, que não somos.

Todos nós assistimos à cruzada da energia eólica e das fotovoltaicas, financiadas pela “feed in tariff”, ou pelo contribuinte, que conduziram à energia eléctrica caríssima, ao agravamento do défice tarifário e a mais um encargo excessivo na conta de exploração das empresas portuguesas produtoras de bens transaccionáveis que competem com as suas congéneres europeias (e mundiais, sobretudo chinesas) em condições desiguais.

O preço de mercado do Megawat/hora é muito inferior àquele que nos custa a produção subsidiada da energia verde, intermitente e ineficiente, e Portugal nem sequer é um país produtor problemático de emissões de CO2. Concede-se que se geraram empregos, sobretudo na concepção e construção das centrais (ao longo da vida dos projectos o emprego decresce substancialmente), mas se se contabilizarem os custos-benefícios desses projectos logo vemos que se trata apenas de um bom investimento apenas para os promotores.

E as centrais de biomassa, parente pobre dos incentivos públicos, ficam para trás, as únicas que poderiam trazer externalidades positivas, como seja o combate aos incêndios, autêntica praga do nosso País.

Vamos agora incorrer, sob a batuta do génio do hidrogénio, Costa Silva, e do putativo génio secretário de Estado da Energia, em nova cruzada megalómana, sem olhar a custos nem benefícios (para o Estado e todos nós, pelo menos)!

Devíamos apostar num projecto piloto, de carácter científico, e logo que a tecnologia estivesse madura então, sim, poderíamos apostar num projecto sustentável de energia produzida por hidrogénio. Era só aprender com as tecnologias das eólicas e do fotovoltaico, que competem agora nos concursos com ofertas de energia a preços de mercado.

É que a energia que produzimos enquanto país é muito superior àquela que consumimos. E numa primeira aula de economia deveríamos, desde logo, concluir que a nossa energia deveria ser barata. É a célebre lei da oferta e da procura…Não é, pela simples razão do “feed in tariff” que terá uma réplica sísmica no projecto do hidrogénio!

Fazendo a costumada declaração de interesses, sendo responsável por um grupo empresarial especializado na concepção, fabrico e construção de linhas de transmissão, deveríamos, ao invés, apostar no investimento em linhas de transmissão “cross border” que permitisse exportar a nossa energia verde excedentária para a Europa. Este, sim, o investimento que faz sentido, a par dos investimentos nas centrais de biomassa.

Este investimento, pasme-se, foi defendido pela França que pretende beneficiar da energia de origem renovável produzida na Península Ibérica. E Portugal, a ERSE e os responsáveis políticos não aproveitam esse mercado que podia gerar receitas, preferindo incorrer em custos numa tecnologia imatura e cara!

Percebo a necessidade do “marketing” político para os políticos, mas numa altura em que o País se encontra altamente endividado, com um défice tarifário brutal, que nem tem que se preocupar com o nível de emissões, porque cumpridor por excesso, esse “marketing” faz-me lembrar as obras faraónicas das barragens lançadas pelo governo de Sócrates já no estertor do seu malfadado reinado… E eu sou defensor das centrais hídricas, a única forma actual, eficiente e verde de armazenar energia.

Não quero saber dos fundos europeus alocados ao hidrogénio, queria era que os nossos responsáveis tentassem desviar esses fundos para financiar a nossa economia, para as empresas que produzem bens transaccionáveis e para projectos que permitissem exportar a nossa energia verde. E comparar o investimento que a Alemanha vai fazer nessa tecnologia é o mesmo que comparar o nosso investimento em auto-estradas com o investimento em estradas no Burundi.

Esse “marketing” é uma megalomania que nos vais custar caro. Mas eu não sou um (hidro) génio!

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.