A política transformou-se num verdadeiro teatro pantanoso, onde a ficção e a realidade se misturam de tal forma que já não é possível evitar a falência deste sistema.

As promessas de investimento nas infra-estruturas, ferroviárias ou aeroportuárias, no Sistema Nacional de Saúde, na melhoria do sistema de educação ou no sistema judicial, esbarram na realidade, no dia-a-dia.

A gestão do país tornou-se num reality show ideológico, onde o que interessa são os anúncios de medidas e incentivos, sendo que a maioria dos quais não passa disso mesmo, anúncios.

A gestão do curto prazo leva-nos a um país hipotecado, com um reduzido crescimento potencial e cada vez mais dependente de subsídios. Fomos ultrapassados por todos os países que entraram na União Europeia este milénio, sem que qualquer responsabilidade ou razões fossem apuradas.

Recebemos milhares de milhões de euros, e agora que se aproximam mais 58 mil milhões, ou 26% do PIB, limitamo-nos a anunciar que esta é a última oportunidade. Lembro-me de discursos semelhantes aquando da entrada para o euro, muitos deles proferidos por gente que ainda se mantém na política.

Ao impedir a responsabilização das estratégias e investimentos anunciados, seja ao nível do cumprimento ou da sua eficácia, evita-se corrigir a estratégia económica futura. Qual o resultado das estratégias anunciadas nos últimos 20 anos? A da década, a dos centros de decisão nacional, a de Lisboa ou ainda a estratégia industrial…

São tantas as estratégias que é fácil um cidadão deixar de acompanhar e perder o interesse. Mas o sistema está feito para isso mesmo. A corrupção, os conflitos de interesse, os negócios de milhares de milhões feitos em prejuízo da economia nacional, demonstram que em nada se tem alterado o rumo do país.

As mais recentes investigações ao pós-queda do Grupo Espírito Santo dão conta de lucros monumentais realizados por entidades estrangeiras com a compra a desconto dos activos à custa dos accionistas, obrigacionistas e agora dos contribuintes nacionais. O maior exemplo, ainda pouco falado, será o da seguradora Tranquilidade.

E se até agora os contribuintes pensavam que estavam protegidos, desenganem-se. O Fundo de Resolução será um buraco para ser pago por todos nós, uma vez que o Banco de Portugal, BCE e Governo já sabem que o sistema financeiro não o pode pagar. Na prática, a gestão do país resume-se a empurrar os problemas e a atirar dinheiro para cima deles, pelo menos enquanto há. Quando não corre bem, a culpa é de factores externos, da crise, da Holanda, do sistema financeiro ou do capitalismo.

O problema nunca está nos políticos que nos governam há décadas com os mesmos resultados e objectivos – ficar à frente a Grécia. Este dinheiro que aí vem tem de ser supervisionado pela União Europeia ou cairemos no mesmo: o benefício de alguns, hipotecando o próximo século de muitos.