Portugal está, desde o final da semana passada, economicamente menos poluído do que se encontrava até então. Na realidade, a agência de notação financeira Standard and Poor’s (S&P), uma das Big Three, decidiu tirar o nosso país do ‘lixo’, classificação em que se encontrava de há um bom par de anos a esta parte.

Se até então apenas a canadiana DBRS, a menos importante das grandes agências de notação financeira, considerava que Portugal conseguia navegar acima do lixo, agora são já duas as agências de rating que tiram o nosso país da chafurdice económico-financeira em que havia mergulhado há mais de 2250 dias.

Não obstante, a Fitch e a Moody’s, duas das três Big Three, ainda mantêm a classificação de lixo para a dívida portuguesa, sendo, pois, certo afirmar que, dependendo da perspetiva, Portugal está meio dentro ou meio fora do lixo.

Sem fazer uma análise aturada do mérito das agências de rating e das avaliações que estas realizam, as quais passaram ao lado da profunda crise financeira global de 2007-2009, ao atribuírem classificações muito favoráveis a instituições financeiras insolventes, como o Lehman Brothers, e aos títulos subprime, contribuindo para o colapso do mercado habitacional nos Estados Unidos, não restam dúvidas de que estes players dos mercados financeiros internacionais são fortemente condicionados na sua atuação, sendo muito duvidosa a sua isenção e independência, bem como o real valor dos relatórios que produzem e das classificações que atribuem.

Mais importante é, sem dúvida, procurar encontrar os responsáveis por esta evolução positiva, dividindo-se a opinião entre os que consideram que foi o governo Passos/Portas que, ao fazer os portugueses apertar o cinto, criou as condições para nos tirar do buraco devastador em que o governo Sócrates nos tinha deixado e os que entendem que foi a geringonça, liderada por António Costa, que, ao recorrer a políticas mais expansionistas, conseguiu reanimar a economia nacional, retirando-a do marasmo em que esta havia mergulhado.

Partilhamos aqui da opinião, politicamente correta, do Presidente da República portuguesa, que repartiu os méritos pelo anterior e pelo atual executivo, congratulando ambos pelo resultado alcançado.

Se, sem margem para dúvidas, Passos e Portas foram decisivos para nos fazer sair do abismo, ao impor aos portugueses um conjunto de sacrifícios muito consideráveis que fizeram recuperar a credibilidade externa do nosso país e o colocaram numa trajetória de crescimento económico, abraçando políticas pouco amistosas, mas, inquestionavelmente, necessárias, com uma coragem e uma determinação pouco habituais nos políticos, também Costa tem a sua quota-parte de responsabilidade na melhoria da situação económica, ao conseguir injetar nos portugueses uma esperança que parecia perdida e uma sensação de melhoria que não acompanhava o discurso do anterior governo.

Se o anterior executivo teve o grande mérito em conseguir inverter o ciclo, teve o enorme demérito de nunca conseguir explicar aos portugueses, em termos que estes pudessem perceber, o rumo que estava a ser seguido, mostrando-lhe o porto de destino. Bem quanto ao fundo, péssimo quanto à forma.

O atual executivo, pelo contrário, soube aproveitar o caminho trilhado pelos seus antecessores, fazendo seu o sucesso deles, galvanizando os portugueses, fazendo-os acreditar nas suas capacidades, catapultando-os para um ciclo de crescimento económico. Juntou ao mérito alheio o mérito próprio, soube-o comunicar aos cidadãos, desvalorizou os falhanços e hipervalorizou os sucessos.

No fundo, o menos relevante nesta história é termos mais um a dizer que já não somos lixo, mas, sim, perceber que, em política, não são só importantes os resultados, também é essencial a forma como os mesmos são comunicados, percecionados. Não só o que é se revela importante, também o que parece é fundamental. E o que parece, pelo menos a julgar pelas sondagens, é que a geringonça é um sucesso e Costa um mágico capaz, recorrentemente, de tirar coelhos da cartola.