Há muito que deixei o Twitter — fi-lo antes de Elon Musk o converter em X. Tenho a convicção básica de que os consumidores têm um poder assinalável e devem exercê-lo ao comprar ou rejeitar produtos. Se um bar passa a ser frequentado por gente perigosa e indesejável, eu deixo de ir a esse sítio — vale a pena sublinhar que um bar é apenas um bar, não é um país.
O dono X começou por tratar os seus novos trabalhadores com a insensibilidade e o radicalismo que o definem: zero empatia, sempre a cortar a direito, sem respeito pelos direitos de seja quem for. Além dos hábitos laborais draconianos, pôs de parte a moderação dos tweets e escancarou as portas à desinformação e a um sortido de movimentos extremistas. O resultado está à vista. As eleições na Alemanha do mês que vem são o mais recente alvo de Musk.
Na tomada de posse de ontem estavam lá, orgulhosos e altivos, os líderes das principais empresas de tecnologia americanas; até o invisível Tim Cook, da Apple, foi ao beija-mão de Trump. Facebook, Google, Microsoft, TikTok, Amazon, Apple, além do omnipresente Musk. Estes novos senhores do mundo acreditam que a nossa dependência destes produtos é tão grande que não nos conseguiremos libertar deles. Não vai ser tão fácil como largar o Twitter, é verdade, mas será possível e, penso eu, muito desejável quebrar este poderoso círculo de gente sem escrúpulos.
A aliança do mal consumada ontem entre o perigoso Trump e os bilionários do digital é um aviso à navegação global. Não há regresso nenhum ao fascismo. A história não anda para trás. Há, sim, uma nova ordem internacional onde a confusão do mundo digital (desinformação) e a vigilância digital andam de mãos dadas.
Este editorial está a ser escrito num iPhone. Será enviado por um email da Microsoft e ganhará vida nas redes sociais e nos motores de busca dos suspeitos do costume. Vai ser preciso ter caminhos alternativos, porque o dia de ontem encerra perigos que devem ser encarnados sem histerismo, com inteligência e determinação. Mal não faz mal e pode evitar males infinitamente maiores. A diversidade do capitalismo é uma arma poderosa.