Na edição da semana passada publicámos uma reportagem sobre a bolha de advogados milagrosamente especializados na regularização de cidadãos extracomunitários. Esta bolha repentina está a surgir por toda a parte como acontece com os cogumelos no outono — e alguns são bem venenosos. Estes advogados têm um campo de ação mais concreto e delimitado: eles andam onde há negócio e clientes, por exemplo, pelo Centro Comercial da Mouraria; querem aproveitar ao máximo os 400 mil imigrantes que estão literalmente aos papéis. Muitas destas pessoas — resumi-los à condição de imigrantes é uma desvalorização lastimável — não falam português, não conhecem os seus direitos, vivem em circunstâncias muitas vezes penosas, a fragilidade é evidente e a angústia tremenda. Como todos sabemos, fragilidade rima sempre com exploração.

Alguns (muitos?) destes advogados não são realmente especialistas nesta área do direito, mas apresentam-se como sumidades aos clientes perdidos e zonzos com tanta regra e com a ameaça de serem expulsos do país. É o caldo ideal para abusos e atropelos. A Ordem dos Advogados poderia — deveria — exercer a responsabilidade de regular esta selva, mas, pelo que se vê, a maior preocupação tem sido limitar a entrada de advogados brasileiros que chegam a Portugal também eles farejando a debilidade dos seus conterrâneos. Nem todos são assim, obviamente, há gente decente e com princípios, mas para a Ordem dos Advogados talvez o que interesse mais seja limitar a concorrência para proteger o terroir dos advogados da pátria.

A situação é inaceitável. O Estado e, por conseguinte, o Governo não podem fechar os olhos a esta violência. Cada pessoa explorada — as fortunas que pagam aos advogados por uma mão cheia de nada… — é uma catástrofe humanitária, social e até económica. António Costa é o pai e a mãe desta vergonha. Luís Montenegro não pode tornar-se o carrasco, mesmo que involuntário.