O filme que dá inspiração a este título trata, ao contrário do que era a tradição de Marilyn Monroe, de amizade e de desencontros. Vinda de um jantar do meu curso, provavelmente o único a organizar encontros anuais, perante as notícias desta semana, resta-me a consolação de que a verdadeira amizade não tem fronteiras e sobrevive às divergências de opinião. Aos amigos. Aos que me ampararam nos momentos mais turbulentos e que me souberam contrariar quando estava errada, principalmente quando era mais fácil dizer-me que sim, presto o agradecimento que devia repetir todos os dias. Obrigada. No final de tudo, o que fica de nós nem é tanto o que fazemos mas o que sentimos. A eternidade é também isso e serve-se com a gratidão.

Para os que, como eu, teimam em aceitar os resultados de Bolsonaro, a semana iniciou-se da pior maneira, com a vitória de um homem que nem sabe identificar os impostos que afirma pretender baixar, num discurso pleno de lugares-comuns e de discriminação. Bolsonaro só não é ainda um tirano porque não pode, como já confessou publicamente. Não desconheço que os seus apoiantes apelidam a (minha) incredibilidade de falta de sentido de democracia. Sucede que o primeiro a falar em assassinatos e em golpes foi, justamente, esse candidato. A esses tenho respondido que houve um outro senhor, aliás com ideias parecidas, que também terá ganho umas eleições, não havendo do que fez após isso nada a assinalar, excepto cerca de onze milhões de mortos.

Passada a perplexidade, o que fica destes resultados é que as pessoas têm pouca capacidade crítica e, num momento solene como o do voto, acabam por se deixar conduzir pelas agências de comunicação e pela melhor propaganda, ainda que a mesma não tenha correspondência com o discurso do candidato. Não é, sequer, um problema do Brasil, antes consubstanciando uma tendência transversal. Estamos cada vez mais submersos em tranches de informação e cada vez menos informados, convencidos que temos ampla liberdade quando, na verdade, quase todas as nossas escolhas são pré-determinadas.

Os que resistem ao que é mais fácil, à publicidade oca mas cada vez mais bonitinha, são prontamente apelidados de “velhos do Restelo”, incapazes de se “adaptarem” a este novo mundo, onde apenas o fugaz releva e no seio do qual somos todos descartáveis.

Aos que ousam pensar pela sua cabeça e, ainda assim, resistem e dizem “não”, mesmo quando é difícil (principalmente, quando o é), resta a vitória de o tempo se encarregar de demonstrar que tinham razão. Não se ganham todas as lutas mas, seguramente, perdem-se sempre as de que desistimos.

Foi, do mesmo modo, o caso de um pequeno grupo de trabalhadores da Autoeuropa, que teve a coragem de, contra tudo e todos, incluindo daqueles que os deviam defender, avançar e lutar pelo que consideravam justo. Há vitórias que não se sentem sem o apoio dos que ajudamos. No final do dia, volvida a espuma destes tempos, devolvo-vos o aplauso. E faço-o de pé. Obrigada, meus senhores.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.