As eleições autárquicas realizaram-se em todo o país. Naturalmente, há sempre vencedores e vencidos, não obstante as lutas desiguais por este país fora. Não em todas as 308 câmaras municipais, mas em muitas, cresceu a utilização de meios públicos para campanhas puramente eleitorais. Essencialmente pelo Partido que governa Portugal e que, escudado na “bazuca europeia”, a utilizou como uma espécie de trunfo para alguns combates, desdobrando-se em ações de marketing sob “capa” pública.

Já para não falar daqueles que, oriundos do poder camarário vigente, utilizaram as suas candidaturas para tentar condicionar dirigentes de instituições, associações, coletividades e freguesias, semeando o pânico da mudança e atribuindo mais umas migalhas em subsídios e deliberações, na expectativa de benesses eleitorais.

Estou certo de que o povo não está ciente do poder, quer individual, quer coletivo, que possui para mudar a realidade. Na verdade, quem se candidata contra o poder vigente, tem de ser bem resiliente e imbuído do espírito de missão, comprometido com todos os seus cidadãos, pois a disputa é desigual. E isto agrava-se quando determinado Partido se aproveita de pseudo movimentos independentes, para se escudar numa estratégia eleitoral dissimulada numa equidistância partidária, que só ocorre de quatro em quatro anos para canalizar votos para o Partido Socialista.

Vem isto a propósito da minha terra, Viana do Castelo, em que o poder vigente ao ganhar a eleição, perde um Eleito, 8,63% e 4.300 votos na Câmara Municipal, na sua maioria votantes do centro urbano, e acaba por vencer as eleições porque houve 15 (em 27 juntas) movimentos “independentes a vencer nas freguesias, correspondente a 56% do número de freguesias deste concelho capital de distrito.

Os independentes tiveram mesmo mais do dobro das juntas do PS, que garantiu apenas sete freguesias. Por outro lado, utilizou a sua posição de antigo vereador para promover reuniões, não com as populações, mas sim por intermédio do poder orçamental que tem, com as associações e coletividades, em cada uma das freguesias, prometendo “mundos e fundos”.

Este modus operandi é feito de uma forma mecanizada pelo poder instalado, um tipo de campanha “por debaixo da mesa”, e terá sido por um voto útil da esquerda, e dos famosos “independentes da maioria das freguesias” que, apesar da queda eleitoral de cerca de 10%, garante a eleição.

Se em Viana do Castelo se utilizam os “independentes dissimulados” para ganhar eleições partidárias, a nível nacional o PS tenta fortalecer a sua vocação autárquica (apesar do PSD ter reforçado de forma inequívoca). E embora tenha perdido 32 câmaras municipais (passa de 179 para 147), o PS continua a ter mais 38 câmaras que o PSD, e mais 40 presidências de juntas de freguesia.

Em Viana do Castelo é tudo ao contrário, porque vale mesmo tudo para vencer eleições. Como dizia um dos fundadores da democracia em Portugal, ninguém deve temer, pois a “intervenção ativa é a única possibilidade que temos de tentar passar do isolamento das nossas ideias e das teorias das nossas palavras à realidade da atuação prática, sem a qual as ideias definham e as palavras se tornam ocas”.

E com estes exemplos temos atores passivos e dependentes de orçamentos municipais, pelo que é tempo de dizer basta a autoritarismos no poder local, onde há muito deveriam estar erradicados. Deviam todos, sem medos, lutar pela igualdade de oportunidades, pela democracia, por um país mais justo e solidário. Quem não deve, não devia ter temido esta luta, pois quem ganhou foram os independentes, que de independentes nada tinham!