Portugal poderá não ser, “necessariamente o [destino] mais vantajoso” a nível de tributação para investimentos, mas há outros fatores que atraem os franceses, como o fato de contarem com sistemas pensados especificamente para os investidores, o nível da formação e o domínio de línguas, assim como a relação próxima entre a academia e as empresas, afirma o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Francesa (CCILF). Isto reflete-se na posição cimeira que França ocupa entre os países que mais investem em Portugal, mas, e especialmente, no ranking das trocas comerciais. Também nos projetos de investimento que vão sendo conhecidos.
Por ocasião da 27ª edição dos Troféus CCILF, que marcam o regresso da gala, Fabrice Lachize destaca, em entrevista ao Jornal Económico, o papel que este evento tem como ponto de encontro da comunidade empresarial franco-portuguesa. E ainda outro fator que acrescenta à preferência dos investidores franceses: “Portugal é um país de acolhimento por excelência”, diz.
Como tem evoluído o investimento diretofrancês em Portugal?
A França é um parceiro comercial muito importante para Portugal e a sua posição no “top 5” tem vindo a consolidar-se, ano após ano.
As boas relações bilaterais existentes, políticas e comerciais, fomentam a confiança entre os dois países. Os investidores franceses estão confiantes e continuam a investir, tendência que se vê refletida no número crescente de investimentos realizados estes últimos anos.
Estão criadas as condições em termos de envolvente fiscal, administrativa e jurídica para o lançamento de novos projetos?
O “período Covid” e as suas consequências no funcionamento da administração não vieram ajudar a rápida instalação das empresas, porém, as coisas estão a voltar progressivamente à normalidade.
No que diz respeito à tributação, as empresas que pretendem instalar-se em Portugal poderão considerar que o país não é necessariamente o mais vantajoso, contudo, existem inúmeras medidas pensadas para atrair os investidores estrangeiros. O país apresenta também um excelente nível de educação e um domínio avançado das línguas estrangeiras.
As relações entre universidades e empresas estão muito mais desenvolvidas do que em França, o que permite a criação de projetos inovadores, a custos controlados. Do mesmo modo, os municípios estão a fazer grandes esforços para reduzir ou mesmo anular a tributação local, a fim de permitir às empresas que se instalem nos seus territórios, tornando, assim, a região mais dinâmica e criando empregos. Nestes casos, a CCILF tem um papel importante de aconselhamento na validação dos projetos e no acompanhamento das empresas no seu processo de implantação.
O que é expetável para os próximos anos em termos de novas empresas francesas ou de investimento direto francês em Portugal?
O que precisa de mudar para gerar maior interesse por parte dos investidores, além das questões jurídicas e tributárias?
Sabemos que o investimento francês no sector imobiliário continua a ser muito elevado. As empresas francesas investem, hoje em dia, em todos os sectores da economia: automóvel, aeronáutica, distribuição, agroalimentar, financeiro e tecnológico IT, call centers e turismo. Mas Portugal atrai também investimentos em nichos de mercado mais exigentes, tais como o sector médico e o energético.
Como disse anteriormente, as competências profissionais estão bem presentes em Portugal., mas o mercado de trabalho é escasso e as empresas estão a ter cada vez mais dificuldade em recrutar. Nesse sentido, estamos a trabalhar para reunir instituições de ensino superior portuguesas e francesas para permitir a certas empresas recrutar novos talentos devidamente identificados e a quem poderão oferecer oportunidades profissionais.
Existem condições para os cidadãos franceses que são empresários e suas famílias
se fixarem em Portugal?
Sim, não restam dúvidas de que Portugal é um país de acolhimento por excelência para nós franceses e que a integração dos nossos compatriotas está a decorrer sem a menor dificuldade.
A França é um dos principais parceiros comerciais para Portugal. A tendência futura é para manter este registo?
A CCILF tudo faz para assegurar que estas relações comerciais continuem a progredir significativamente.
No primeiro trimestre de 2021, acolhemos cerca de 30 novas empresas que estão em processo de implantação e as nossas reuniões b2b [businesss to business], seminários e missões para procura de agentes comerciais destinadas a empresas portuguesas que desejam exportar para França, foram um êxito.
Qual a importância dos Troféus CCILF para a dinâmica da economia portuguesa?
Uma vez por ano, os Troféus da CCILF são a oportunidade de reunir a comunidade empresarial franco-portuguesa.
Este ano foi especial, após um ano de interrupção, foi a ocasião de fazer um balanço das relações económicas entre os nossos dois países.
Os troféus são, obviamente, a oportunidade para a CCILF de destacar empresas dinâmicas que são fundamentais para o mercado franco-português.
Na edição deste ano, recebemos 55 candidaturas, o que constitui um recorde. Este registo mostra o interesse crescente das empresas pelo nosso evento.
Qual o Troféu mais marcante para o presidente da CCILF ?
Tenho particular interesse no Troféu do Investimento em Portugal e no Troféu da Exportação, pois com estes dois prémios temos uma visão global do interesse que os empresários têm por França e por Portugal.
Nos últimos anos de atribuição dos Troféus, há algum momento marcante de grande destaque? Qual o seu sentimento quando em 2020 a escolha e entrega dos Troféus foi interrompida devido à pandemia?
Interrogámo-nos sobre se deveríamos continuar a realizar os Troféus em formato digital, mas optamos por não o fazer, sendo este um momento importante de intercâmbio e convívio, valores que dificilmente conseguimos transmitir através de um webinar.
Ficámos muito satisfeitos por esta edição de 2021 ter alcançado os 250 participantes reunidos num ambiente positivo e amigável. Gostaria de aproveitar esta oportunidade para agradecer ao secretário de Estado da Internacionalização, o Prof. Dr. Eurico Brilhante Dias, pela sua participação. Durante os nossos intercâmbios, constatámos que as relações comerciais bilaterais são verdadeiramente a mais-valia da nossa Câmara.
Estão previstas mudanças para o próximo ano, ao nível dos Troféus, nomeadamente a criação ou modificação de determinadas categorias?
Após cada edição, refletimos sobre como melhorar ainda mais este evento fulcral para a CCILF. Reunimo-nos regularmente com os nossos parceiros da AICEP Portugal Global, IAPMEI – Agência para a Competitividade e Inovação, Jornal Económico e os nossos leais patrocinadores Rubis Energia, Novobanco, Victoria Seguros e Lauak para fazer destes troféus um evento imperdível.
Qual é o papel da CCILF no acompanhamento e instalação de empresas e empresários em Portugal? Há algum projeto específico que queira sublinhar?
A CCILF apoia os investidores em todas as fases da implantação. Mas para além disso, dispomos de serviços personalizados para a procura de parceiros comerciais, clientes e fornecedores, instalações, colaboradores, etc. Todo este trabalho é realizado em conjunto com os membros da nossa rede, que conta atualmente com mais de 600 associados. Organizamos também regularmente fóruns sectoriais cujo objetivo é reunir empresas francesas e portuguesas para desenvolver os seus negócios e reuniões para promover o investimento em Portugal e em França. Temos muito orgulho em contribuir para o desenvolvimento internacional das empresas.
Que papel desempenhou a CCILF no apoio à internacionalização das empresas portuguesas em França?
Somos parceiros de muitas associações profissionais e acompanhamos muitas empresas durante os nossos roadshows em França ou através dos nossos encontros com agentes franceses. A CCILF é também a representante da Promosalons em Portugal, cujo papel é permitir aos empresários portugueses visitar feiras internacionais em França.
Qual o número de associados da CCILF ?
Ultrapassamos os 600 sócios, número que permaneceu estável durante a pandemia, tendo mesmo aumentado ligeiramente. Este é um sinal de que a CCILF, ao permanecer perto dos seus sócios durante este período complicado, se tornou uma ferramenta fundamental nos negócios.
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