Quando o novo primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, nomeou para ministro das Finanças o eurocéptico Paolo Savona, os mercados reagiram negativamente, forçando o presidente da Itália a recusar a proposta de Conte. Ultrapassado o impasse, os partidos lá chegaram a um acordo e um novo governo acabou por tomar posse. Os mercados acalmaram e por agora vai-se andando. Claro que as forças políticas mais extremistas acusaram os mercados de chantagem. Que a Itália não pode ficar refém dos mercados, como se a Itália não fosse os mercados ou os mercados não fossem a Itália.
Porque os mercados, que as forças políticas extremistas italianas, e também as espanholas, portuguesas e francesas, tanto criticam são a expressão da vontade das pessoas. Os mercados não são mais que as nossas escolhas. Somos nós, cidadãos, que decidimos se vale a pena investir em dívida pública italiana, ou espanhola ou portuguesa, ou se estas, devido à incompetência dos governos na gestão do bem público e à intolerância ideológica dos extremistas, se tornou um investimento demasiado arriscado, fazendo subir as respectivas taxas de juro e acabando por trazer alguma razão a quem governa o Estado.
Foi isso que aconteceu em Itália, tem sucedido em Espanha e salvou Portugal. Foram os mercados, nós, consumidores e investidores, que salvámos Portugal em 2011. Nessa altura, foi a subida das taxas de juros que forçou o pedido de ajuda à troika, sob pena do Estado deixar de pagar salários e pensões, obrigou Sócrates a demitir-se e a serem convocadas novas eleições. Não fossem os mercados e a maioria dos portugueses teria ficado sem salários. Não fossem os mercados e Sócrates permaneceria no poder, controlaria a imprensa e a Justiça. Não fossem os mercados e o PS desapareceria e muitos dos socialistas que hoje estão no governo teriam caído em desgraça.
Todos eles devem estar gratos pelos mercados. Gratos pela clarividência que as pessoas, individualmente e sem pressões das massas, manifestaram naqueles tempos em que tudo parecia desabar. Pela forma como as pessoas, através das livres escolhas que fazem individualmente e a que se dá o nome de mercados, reagiram e trouxeram razoabilidade e objectividade ao que se estava a passar. Quando o país parecia caminhar para o abismo, os cidadãos, portugueses e estrangeiros, em consciência e individualmente, libertos da propaganda política, em segredo, tal qual quando depositam o seu voto na urna, salvaram o país. Como deram uma ajuda à Itália e o já o fizeram à França.
Por ser uma força que os políticos extremistas não controlam que estes acusam os mercados de chantagem. Porque não apreciam a liberdade de decisão. No meio de tanta irracionalidade, os mercados, nós, trazemos razoabilidade e impomos a ordem.