Primeiro, o caso de Cristiano Ronaldo. Uma novela que moveu mundos e fundos a propósito da atitude do jogador, que estava então em estágio para a Seleção Nacional, em França, sobre o direito à informação e também sobre o respeito a uma pessoa que já tinha dito, por várias vezes, que não queria falar com aquele órgão de comunicação social.
Agora, o caso que envolve o líder da claque do Futebol Clube do Porto, Fernando Madureira, que alegadamente “roubou” mais um microfone do mesmo canal de televisão junto ao local onde decorria o julgamento da Operação Fénix, em Guimarães, em que Pinto da Costa é arguido.
O Líder dos Super Dragões supostamente não só roubou o microfone do canal de televisão, como fez vários vídeos e fotografias, que partilhou sem pudor nas redes sociais, numa espécie de saga ‘onde está o microfone da CMTV?’, ao estilo do duende de jardim que ia enviando postais de várias partes do mundo no filme “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”. Surgem imagens do dito microfone a fazer a barba, no ginásio, no caixote do lixo, a fazer entrevistas, numa viagem de carro e até a rufar no tambor que animou a claque num jogo contra o Tondela.
O canal condenou a atitude, alegando ser um atentado contra a liberdade de imprensa, e garantiu que vai fazer queixa junto das autoridades. Mas, ao que parece, o famoso e agora sujo microfone já reapareceu, entregue na esquadra da PSP da Foz, no Porto.
Agora voltemos ao caso do primeiro microfone, o que Cristiano Ronaldo atirou ao lago em Lyon, França. Recorde-se que, na altura, o maior aproveitamento do caso foi feito pela própria estação de televisão. Mostrou em direto o mergulhador que fez a busca do dito microfone e adicionou ao momento de grande audiência um número de telefone de valor acrescentado, cujo montante revertia para uma instituição de solidariedade social. Imagino que a ideia do canal foi dar uma resposta nobre a uma atitude menos correta do jogador. Mas a mim soou-me mal. Porque isso não é jornalismo, nem direito à informação.
A verdade é que ambas as atitudes são condenáveis e roubar microfones, mais do que o prejuízo financeiro e a atitude de repulsa ao canal em questão, são atitudes que todos os jornalistas e órgãos de comunicação social, sejam eles quais forem, devem condenar. Quem não gosta da política editorial do Correio da Manhã tem o direito de não o ver ou ler, mas o órgão de comunicação social tem o direito a fazer o seu trabalho.
Esta é uma questão tão antiga quanto o jornalismo, e tão conturbada quanto os jornalistas e as redações o devem ser. Quais são os limites? Até onde se pode ou deve ir? Onde acaba o jornalismo e começa o sensacionalismo?
Se, por um lado, o CMTV não deveria ter feito um verdadeiro show com a história do microfone atirado por Cristiano Ronaldo, perdendo com isso a credibilidade de agora se sentir ofendido com uma resposta semelhante, e igualmente humorada, do líder da Claque do Futebol Clube do Porto, por outro, quem condena o canal, o jornal e a sua prática editorial são muitas vezes os primeiros a chamá-lo quando querem fazer explodir uma notícia escabrosa.
Como se responde a estas questões depende sempre da política editorial de cada um. E já aconteceu com quase todos, com mais ou menos microfones, com mais ou menos humor. Mas uma coisa é certa: os microfones da CMTV passaram, a partir de hoje, a ter outro valor. E, quem sabe, até se tornaram numa linha de brindes de sucesso. Acredito que muitos portugueses até gostariam de ter um boné, caneta ou porta-chaves em forma do famoso microfone. Fica a dica.