Recentemente, o “American Jounal of Political Science” publicou um artigo de S. Wolton sobre a neutralidade ou ausência de neutralidade dos meios de comunicação social. Será esta característica, ou a sua inexistência, algo bom ou mau para a democracia? É a esta questão que o modelo matemático formulado e resolvido pelo autor tenta responder.

O mesmo conclui que os eleitores são melhor informados quando existem meios de comunicação neutrais, o que não é surpreende. O que se destaca, porém, é que nem sempre a informação menos neutral é necessariamente má para a avaliação que os eleitores fazem. Por outras palavras, a existência de um jornalismo de menor “qualidade” porque não neutral, não é necessariamente mau para a percepção da realidade. Talvez, mas não só, porque os eleitores saberão diferenciar as fontes a que estão a aceder.

Este trabalho não só nos deixa a pensar nas diferentes naturezas do processo de informação a que o cidadão acede nas democracias dos nossos dias, como também no questionamento constante das fontes e de como, mais ou menos informados, vamos conseguindo olhar para a credibilidade das fontes e repensar essa mesma informação. Se todos fazemos isto conscientemente ou não, não o sei dizer, mas não de ser interessante a perspectiva mais desassombrada de que talvez a “desinformação adveniente de informação não neutra” também possa ser importante.

Não defendo, claro, que procuremos reduzir a qualidade do jornalismo que nos é apresentado. Afinal há um poder imenso dos “fazedores de notícias” cuja medida não foi ainda, efectivamente, encontrada. Mas existem por ali muitas subtilezas de interpretação dos seus efeitos: aspecto que tenho vindo recorrentemente a referir neste espaço.

É óbvio que eu, enquanto leitora e eleitora, posso decidir aceder a notícias cujas fontes me são próximas ideologicamente, e apesar de saber que a newsletter do partido “x” não é totalmente neutra, retire daí a informação que necessito. Isto é, terei (talvez?) maior tendência para ler notícias/opiniões que estão mais próximas da minha maneira de racionalizar a realidade.

Esta “self-fulfilling prophecy” será, provavelmente, aquilo que nem sempre estamos a ver, mesmo estando diante dos nossos olhos: nós, enquanto eleitores e cidadãos, teremos sempre em atenção o que está em linha com as nossas percepções e preferências e só depois olharemos para “o outro lado”. Este aspecto deve, por si só, ser tido em consideração quando os políticos estão em campanha (atenção às próximas eleições em Portugal), pois a opinião dos eleitores pode mudar – e muda seguramente – mas ainda não sabemos exactamente como, ou como isso se reflecte no efectivo sentido de voto.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.