Temos assistido recentemente a uma série de ataques, nas redes sociais e em comentários deixados nas notícias relacionadas, à figura dos nómadas digitais. Um grupo que, para os críticos, é apontado como responsável pela gentrificação de bairros e localidades, bem como pelo aumento de preços das rendas, produtos e serviços.
Na realidade, esse “apontar de culpas” é fruto de diversos fatores que têm como raiz uma incompreensão que urge resolver. Até porque uma coisa é certa; os nómadas digitais não vão desaparecer dos destinos onde já escolheram instalar-se.
Pelo contrário, são uma realidade incontornável da força de trabalho móvel global e o seu número só terá tendência para aumentar. De acordo com um estudo avançado pela revista “Forbes”, só nos EUA prevê-se que em 2025 o número de trabalhadores remotos chegue aos 35,7 milhões, representando 22% da força de trabalho no país.
Com efeito, desde há anos que a tendência da deslocalização do trabalho se evidenciava, acompanhando assim os avanços das plataformas de colaboração digitais. Uma tendência que foi, entretanto, potenciada pela pandemia da Covid. Hoje em dia, os destinos competem entre si para cativar os nómadas digitais, estendendo-lhes os períodos de visa concedidos, por exemplo, ou criando fatores de atração que passam por oferecer mais vantajosas condições fiscais e de residência.
Quanto à colisão entre os visitantes e os habitantes locais, em maio deste ano a prestigiada revista de viagens “Condé Nast” mencionava diversos exemplos de regiões onde existem programas com um objetivo comum: atrair nómadas digitais e trabalhadores remotos para longe das zonas demográficas mais sensíveis e atrai-los para áreas que lutam contra o despovoamento, onde podem revigorar economias mais frágeis.
É precisamente essa vivência dos nómadas digitais como habitantes locais que se pretende assegurar também ma Madeira com o programa “Digital Nomads Madeira Islands”. O projeto, desenvolvido pela Secretaria Regional da Economia através da Startup Madeira e com Gonçalo Hall como consultor, atrai já nómadas digitais de todo o mundo, tendo mais de 17.000 inscritos desde o seu início, em fevereiro de 2021.
De acordo com a nossa experiência regional, estes profissionais que trabalham a partir da Madeira para as maiores empresas ou que são empreendedores digitais continuarão a ter um impacto muito positivo na economia local, elevando a faturação dos negócios locais e colmatando alguma redução de turistas devida à sazonalidade do mercado turístico.
Pelas nossas estimativas, o impacto local económico atingirá 1.500.000 euros por mês. Também de acordo com números de há apenas uma semana, o site da especialidade “Go Nomad” – e que voltou a incluir o destino Madeira no seu Top10 mundial – apontava para uma média de gastos mensais per capita na região de 2.366 dólares/mês (cerca de 2.175 euros).
Obviamente, os números não são tudo. O “Digital Nomads Madeira Islands” oferece também um reforço da inserção na comunidade local ao disponibilizar aos nómadas digitais um espaço de trabalho localizado no Centro Cultural John dos Passos, na Ponta do Sol. Aqui, podem desfrutar de um espaço que, permitindo trabalhar remotamente, proporciona uma forma de estarem em comunidade, participarem em eventos e conhecerem melhor e de perto a nossa cultura local.
Consciente de que o fenómeno da deslocalização laboral global veio para ficar, a Secretaria Regional de Economia continuará o seu trabalho de promoção da Madeira como uma região que tem as condições perfeitas para atrair nómadas digitais, seja pela sua beleza natural, as atividades na natureza, a cultura ou as fantásticas condições climáticas durante todo o ano.
Assim, continuaremos a desenvolver uma estratégia integrada de atração deste mercado para o arquipélago, de forma a dar a conhecer a Madeira como um dos melhores locais no mundo para trabalhar remotamente. De forma socialmente integrada e economicamente sustentada.