A possibilidade de uma organização no Reino Unido ter tido acesso aos dados pessoais de cerca de 50 milhões de utilizadores do Facebook, e de os ter utilizado para formatar as suas opiniões ajudando Donald Trump a vencer as eleições presidenciais de 2016, puseram o Ocidente alerta.

Esquemas semelhantes poderão também ter beneficiado o Brexit, a Frente Nacional nas presidenciais francesas de 2017 – à saída de um encontro a dois em Versalhes, Macron acusou Putin de ingerência – e, quem sabe, até nas eleições alemãs e italianas. O Facebook sabe tanto de nós que quem tenha acesso à informação que este vai recolhendo pode governar o mundo.

O Facebook sabe o nome dos vossos filhos, netos, pais, avós, onde moram, onde estudam, onde trabalham, o que gostam de comer, que livros leram, filmes viram, viagens fizeram, onde estiveram, com quem, o que pensam do que se passa no vosso país, quais as vossas tendências políticas, em quem votam.

Mas não é apenas o Facebook. Experimentem trocar um e-mail da conta gmail sobre um passeio que estejam a planear, vamos supor, a Bragança e depois abram o Google Maps. É mesmo o centro de Bragança que aparece, não é? Não escapa nada. O que sucedeu por via do Facebook, pode acontecer através da Google. Google que, aliás, com o seu motor de busca determina que empresas podem e devem vingar, podem e devem fracassar. “A Case Against Google” é uma excelente  reportagem do New York Times sobre os riscos que corremos.

Mas o problema não é apenas político. É também económico. A Google recebe tanto dinheiro de publicidade, chega diariamente a cerca de dois mil milhões de pessoas, que nada teme. Armazena informação, sem escrutínio, e nada teme. Como lidar com isto? Além da Rússia e da China, como lidar com estas ameaças, verdadeiras quintas-colunas no seio do Ocidente? Porque o perigo de empresas como Facebook e Google não é apenas o armazenarem informação sobre nós que pode ir parar às mãos da Rússia e da China, não é apenas o não sabermos quem pode mandar nestas empresas daqui a uns anos, mas os monopólios que impuseram e dificultam o sucesso dos que querem ter iniciativas que chocam com os seus interesses.

Como liberal que sou não aprecio as grandes empresas por aí além. O risco de se tornarem poderosas como os Estados sem escrutínio e esmagarem o poder dos cidadãos é elevado. A inovação vem da troca de experiências e conhecimentos. Precisamente o que a Google e o Facebook dificultam. Não esqueçamos que estas duas empresas outrora já foram diminutas e beneficiaram da ausência de monopólios. A destruição criadora do mercado que é a reacção dos consumidores, cidadãos, deve começar por algum lado. Mas, para isso, deve estar informada. Esperemos que sim.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.