Há não muitos anos era improvável escrever-se sobre economia portuguesa, considerada um assunto não suficientemente interessante e, no caso particular da academia, de muito difícil publicação, logo, uma perda de tempo. A restante intelectualidade também não lhe devotava maior atenção. A história recente da nossa economia resumia-se ao crescimento dos anos 1960, ao empurrão pelos fundos europeus e ao espartilho da política monetária única europeia. Um pouco numa aproximação ao “Fim da História” de Francis Fukuyama.

A exceção ao estado da arte eram trabalhos realizados em gabinetes de estudos ministeriais ou no Banco de Portugal. E, claro, os trabalhos de economistas seniores que se tornaram referências incontornáveis para a análise da economia portuguesa como Silva Lopes ou Pedro Lains.

A crise da década passada, no entanto, ao revelar as agruras do projeto português ancorado na economia europeia, tornou premente e consensual discutir a resolução das debilidades estruturais da nossa economia.

Neste mesmo período, em resultado de ações filantrópicas, multiplicaram-se Fundações, empenhadas em aprofundar o conhecimento da economia e sociedade portuguesas. Recorrendo frequentemente a professores universitários, têm sido convertidas pelos media nos novos think tanks nacionais, tendo uma reputação e divulgação que os restantes trabalhos não conseguem alcançar.

As suas conclusões são extremamente influentes e até instrumentalizadas pelo debate político – um estudo que afirme, por exemplo, que em Portugal a pobreza aumentou é invariavelmente utilizado como arma de arremesso contra quem estiver no poder.

Dedicadas a temas de interesse geral, os objetos de estudo destes trabalhos são escolhidos segundo critérios particulares e as suas conclusões tendem a ser projetadas como verdades irrefutáveis.

Para Bill Gates, um dos pioneiros do modelo, a ciência e o desenvolvimento tecnológico resolverão o problema ambiental. Muitos veem nestas soluções a defesa de uma nova industrialização, mas agora verde. Um estudo da Fundação Calouste Gulbenkian defende que a sustentabilidade das Finanças Públicas implicará diminuir as pensões de reforma. Não refere que, cortando pensões, se corta a despesa dos pensionistas, prejudicando a evolução do PIB que serve de base ao cálculo das pensões – o paradoxo da poupança de Keynes.

A recente Fundação José Neves expôs uma queda de 17% dos salários dos jovens licenciados entre 2010 e 2018. O relatório não refere quanto é que, nesse período, caíram os salários em geral.

A definição de uma agenda de investigação pelo setor privado requer um contraponto. Assim evoluiu a ciência. Para que isto possa ocorrer, é decisivo que, no mínimo, se divulgue com o mesmo impacto aquilo que em paralelo é feito na academia e gabinetes especializados, os think tanks públicos que há muitos anos se dedicam aos mesmos problemas. Mas também cabe a estes organismos e instituições que os enquadram tomar a iniciativa de se voltar para a sociedade de onde emanam e perante a qual têm responsabilidades.