Esta semana, ficámos a saber que os policias estão descontentes com os vencimentos auferidos em resultado da negociação do suplemento de risco. Em causa estão os descontos em sede de IRS e Segurança Social, com alguns trabalhadores a receberem pouco mais de 50% dos 400 euros acordados.

Devo dizer que fiquei surpreendido com a surpresa dos sindicatos e dos polícias e pelo seu descontentamento. Pergunto-me quem negoceia valores líquidos, sendo que as taxas de IRS são diferentes? Uma negociação salarial tem sempre de incidir sobre um valor bruto, pois um colaborador pode ser casado, outro solteiro, um com um filho, outro com dois, etc. Vir agora dizer que estão descontentes é, no mínimo, estranho. Estou solidário com a elevada carga tributária em Portugal, mas a ignorância ou má-fé não podem passar incólumes.

Numa negociação de aumentos salariais, a empresa sabe que tem de pagar mais 23,75% de Segurança Social (SS) e o trabalhador sabe que terá de pagar 11% também de SS e ainda o IRS, cujo escalão invariavelmente sobe. Esta é a realidade dos portugueses. Há uma entidade que é um sócio invisível quer das empresas, quer dos cidadãos, que se chama Estado. É que todos sabem que entre ‘taxas e taxinhas’, o Estado fica mais de 50% do rendimento dos trabalhadores, e num ordenado que não é de “rico”.

Na última década, para pagar os subsídios e apoios sociais, alguns necessários e outros que desincentivam à procura de trabalho, a solução foi aumentar a carga fiscal. Ora, com a história da progressividade, ter um ordenado de 2500 euros já é ser rico! Mas este descontentamento é reflexo da uma sociedade com pouquíssimos conhecimentos ao nível da literacia financeira e, simultaneamente, da lacuna no sistema de educação português.

Assuntos como impostos, crédito, poupança investimento, são temas que nos acompanham durante a vida, mas que não são ensinados na escola nem nas universidades. A maioria das pessoas não pensa no que significam os impostos, os investimentos, e muito menos tem capacidade de projetar no futuro as consequências de uma decisão tomada hoje.

Os polícias, ou os sindicatos, acordaram agora para a realidade dos portugueses, sendo que todos estão sujeitos às mesmas regras. Se recebem mais, pagam mais. Mas esta situação também coloca em evidência uma situação crónica em Portugal. Há uma classe que ocupa cargos de gestão ou de responsabilidade e que não tem noção do que faz, e quando as consequências são negativas culpam terceiros.

O que todos queremos é uma sociedade mais justa e uma carga tributária menor. Mas, mais do que aumentos salariais, as negociações dos trabalhadores devem incidir sobre a redução da carga tributária. Seria uma medida transversal a todos os portugueses, mais justa, e, no final, o efeito seria o mesmo, aumentar a disponibilidade financeira ao final do mês.