“Ordinariamente todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o Estadista. É assim que há muito tempo Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?”
– Eça de Queiroz, 1867, in “O distrito de Évora”
Não é de hoje, nem de ontem. Talvez e exceptuando os eleitos na primeira Legislatura de 25 de Abril de 1976, nunca mais tivemos políticos de qualidade, que abraçassem a política como uma missão, em que o principal leitmotiv fosse servir o País e, desde logo, os seus cidadãos.
Obviamente que, com o caminhar na estrada do tempo, essa já escassa qualidade se veio degradando, até ao que salta à vista aos dias de hoje. Mas o povo, aqueles que votam, há muito que se apercebeu dessa realidade, e a sua falta de comparência a qualquer eleição (legislativas, autárquicas ou europeias) vem confirmar o que acabo de referir.
O povo votante não tem confiança nem acredita nos políticos que temos. Para isso têm contribuído também os vários escândalos em que muitos se envolveram, a falta de carácter de outros tantos e o aproveitamento, para fins pessoais, de outros dos cargos a que foram guindados pelo voto popular.
O acumular destas circunstâncias, particularmente o divórcio verificado nas urnas entre eleitores e eleitos, deveria ser força maior e suficiente para uma reflexão profunda daqueles que estão na política. Mas tal não é efeito.
A uma primeira e longínqua geração de políticos-missionários, seguiu-se esta geração de políticos-profissionais. Fazem da política a sua profissão, não se importando com o juízo de valor que, a cada eleição que passa, o Povo faz deles. Inebriados pelo poder que a sua “profissão” lhes confere (a uns mais que outros), não conseguem (ou não querem) racionalizar e aprofundar as razões desta gritante falta de comparência por parte do Povo votante. Tomam o comportamento da avestruz.
Recordo que vários homens do mundo empresarial, e referindo-se aos políticos, dizem que só os medíocres e sofríveis é que vão para a profissão de político, porque se fossem bons o mundo empresarial não os deixava escapar. Opinião que corroboro na íntegra.
Existem lugares que devem ser ocupados com espírito de missão e não com uma avassaladora sede de Poder. Quem se apresenta desta forma, nunca fará um bom lugar e ficará sempre na História pelos piores motivos. Por aquilo que deveria ter feito e não fez. Por aquilo que não teve competência para fazer.
Na política não se pode estar como um profissional da mesma. Todos recordamos políticos que tendo entrado num partido político se transferiram para outro, na tal visão de profissão – qual jogador de futebol que se transfere para a equipa adversária.
A política deve ser abraçada com espírito de grande elevação, cidadania e missão.
Gostava de deixar um exemplo muito recente daquilo que é uma missão. Apesar de não ser político, deixou o grande exemplo sublinhado por todos, não só no espaço nacional, mas também além-fronteiras – o Coordenador do Plano de Vacinação Covid-19.
Um exemplo perfeito de missão com que os políticos deveriam aprender! Cumpriu a sua missão (exemplarmente) e saiu.
A mesma postura deveriam ter os políticos, e sair pelo seu pé. Mas como não sabem fazer mais nada, as empresas não os iriam absorver, então vão-se arrastando com o seu “fato” de político-profissional à espera de serem empurrados para a valeta do esquecimento, numa eleição menos favorável.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.