A China e os EUA anunciaram um acordo de princípio sobre o ”enquadramento das negociações de comércio bilateral”. Parece pouco e parece vago, mas poderá ser mais importante do que aparenta.
Houve alguns efeitos práticos: a China relaxou temporariamente as restrições às exportações das chamadas “terras raras” sobre as quais tem amplo domínio e que são imprescindíveis para a digitalização e eletrificação da economia americana. Não é tema para este texto, mas as “terras raras” não são assim tão escassas, o que é raro é aceitar o custo ambiental e social de as minerar. Já os EUA comprometeram-se em voltar a permitir as exportações de tecnologia, motores a jato e alguns químicos, e a voltar a admitir estudantes chineses nas universidades norte-americanas. As duas partes parecem assim ter identificado alguns dos principais pontos fracos do seu oponente. Além disso, compreendem que não é possível congelar o comércio internacional bilateral, sacrificando as suas economias, emprego e bem-estar.
Os mais céticos destacam o caráter temporário do acordo, relembrando que em julho acabará o adiamento de algumas das medidas anunciadas por Trump e também relembram que as tarifas aplicadas a todos os bens são muito altas. Além disso, Pequim pretenderá continuar a dominar as “terras raras”, mantendo-as como arma negocial e os EUA permanecerão relutantes em permitir que a China tenha acesso a tecnologia americana que lhe permita atingir a autossuficiência na fabricação de chips e na inteligência artificial.
A assimetria de tarifas entre os dois países poderá parecer inaceitável para a China porque equivaleria a permitir uma valorização cambial de entre 15 a 40% (as estimativas variam). Só que seria “apenas” nas trocas com os EUA, mantendo o yuan desvalorizado face ao resto do mundo, o que poderia agradar a Pequim.
Estamos provavelmente longe do fim deste conflito, que é apenas um dos ângulos da luta entre estes dois países pela hegemonia mundial. Ainda assim, é positivo observar que o pragmatismo vai-se sobrepondo a posicionamentos mais beligerantes. Enquanto os canais de comunicação permanecerem abertos, há espeço para diálogo e entendimentos – esse é o copo meio cheio que podemos ver no acordo agora anunciado.
Nota ao Leitor: Nas próximas eleições autárquicas serei candidato à presidência da Câmara Municipal de Matosinhos. Continuarei a escrever esta coluna de opinião acerca de economia e mercados financeiros e tentarei fazê-lo como até aqui: da forma mais independente e objetiva possível, sempre com a aspiração de poder ajudar e informar o Leitor do Jornal Económico.