Nesta falsa serenidade dos últimos dias de 2018, sabemos que o novo ano que se aproxima será turbulento em várias frentes internacionais. A ambição desmedida e a ascensão de déspotas que testemunhámos este ano continuarão a ter efeitos em 2019.

Na frente portuguesa, o acordo parlamentar de esquerda deu esperança e repôs direitos, mas os quatro parceiros têm-se mostrado pouco ambiciosos ou desinteressados em encetar as verdadeiras reformas estruturais que o país urgentemente necessita e em apresentar uma proposta que dê resposta ao agravamento de desigualdades, limitando-se em várias situações a uma velha política de remendos (a gestão da ferrovia portuguesa que atravessa uma contínua degradação é um dos exemplos mais alarmantes e que o país tem enfrentado).

Os partidos continuam preocupados com potenciais perdas do seu eleitorado se forem demasiado ousados, não tendo ainda consciência de que irão perder à mesma esse eleitorado por falta de uma nova visão que enfrente os desafios da globalização. No entanto, na sequência dos protestos franceses dos “coletes amarelos”, as discussões mais recentes no país centraram-se na preocupação de que os populistas influenciados pela extrema-direita estariam à beira de chegar a Portugal. Seremos poupados ou também seremos arrastados pela onda populista-nacionalista? Esta era a questão mais recorrente.

A caminho de 2019, é extraordinário como ainda nos continuamos a ver como um país de brandos costumes que tem sido poupado a partidos de ideologias mais hostis, quando há um fenómeno preocupante em curso e que não tem sido denunciado com força suficiente. Basta atentar na linguagem de alguns partidos de direita já constituídos em Portugal, ou mesmo emergentes, que se têm socorrido — e já há algum tempo — de tropos populistas-nacionalistas, sempre que lhes é conveniente para os seus objetivos eleitorais.

Mesmo que a ideologia da extrema-direita não tenha dado entrada em Portugal na sua forma mais agressiva, é fácil observar como nos últimos anos a linguagem nas colunas de opinião e comentários televisivos foi contagiada pelo soberanismo e crescente insatisfação contra o “politicamente correto”, e não nos faltaram dirigentes partidários a socorrerem-se de termos como “fake news”, “marxismo cultural” e outros termos importados da novilíngua nacionailsta-populista. Em consequência, agravou-se a polarização política, mas o contexto económico e social favorável em Portugal não permitiu que essa radicalização fosse mais longe.

Creio que a adoção desta linguagem por alguns é, por vezes, inconsciente das suas origens ou feita de forma demasiado irrefletida, mas as sementes estão lançadas e têm crescido. Se a maré económica se virar contra Portugal num futuro próximo, é bem possível que irrompam com força.

E é por isso que, na iminência de três eleições em território nacional em 2019, todos os partidos, especialmente à direita, têm uma responsabilidade acrescida de não cederem a populismos fáceis que criam falsas oposições entre a vontade popular e a elite governante. O mundo está a mudar e o desafio é o de fazer política que inclua todos, não o de criar ainda mais divisões.