O mecanismo de prémios por desempenho, enquanto instrumento motivacional, há muito que tem sido estudado e teorizado por diversos ramos do saber, mormente pela psicologia social.

A sua expressão máxima encontra-se nas equipas de desporto profissional, onde todos percebem como o valor do conjunto pode, em muito, exceder a mera soma de talentos individuais (por via das dúvidas, vale a pena atentar nas equipas de Sérgio Conceição no F.C. Porto).

Sem surpresa, nestas equipas profissionais o prémio (de vitória, de conquista de um troféu ou de apuramento para uma qualquer eliminatória da Liga dos Campeões) é igual para todos os jogadores. Para todos os convocados e amiúde para todo o plantel. Como bem ensinava Jorge Araújo (treinador campeão de basquetebol do mesmo F.C. Porto, com vários livros muito oportunos sobre construção de equipas), estes prémios são iguais porque é vital que os suplentes e os jogadores menos utilizados treinem com intensidade e obriguem os craques e os demais titulares a darem o seu máximo. Afinal, treinar é igual a jogar, disse José Mourinho.

Nos antípodas disto, há a realidade importada dos EUA. Pátria de tantas coisas boas e outras nem tanto. Importamos a ganância e o medo como elementos centrais da gestão de pessoas em várias das muito grandes empresas.

Empresas essas que de forma deliberada desvalorizam a contratação colectiva. Onde a carreira, a procura de mais saber e melhor fazer, a busca de melhores competências, a dedicação à empresa, salários dignos e justos, afinal os pilares da negociação e contratação colectiva são substituídos por prémios.

Por prémios individuais, cujas regras do jogo mudam de forma abrupta e retroactiva.

Em que promoções e prémios são, não raras vezes, subjectivos e desligados de um processo sério de avaliação.
Onde os prémios são gritantemente díspares; tanto que, por vezes, parecem ser meros pretextos para remunerar um pequeno grupo de forma principesca.

Substituir um mundo de salários dignos e que reflectem ganhos de produtividade e progressão na carreira, por um outro onde salários nominais são estagnados e os tais prémios ocupam, quando ocupam, o espaço vazio, é um passaporte para o dumping salarial, para a perda de sentido colectivo, para a negação do amor à camisola.
Gestores míopes promovem a ganância e o medo. Naquilo que de mim depender, não lhes darei tréguas.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.