O «Altos e Baixos» do Expresso (05SET20) colocou a Secretária-Geral da CGTP nos «Baixos» porque a CGTP marcou para 26 de Setembro uma jornada de luta com o lema “Aumentar salários! Desenvolver o país”. Considera o autor dos «Altos e Baixos» tal decisão «completamente despropositada» porque «É preciso é salvar empresas, para que possa haver emprego e produtividade. Os salários vêm a seguir.». A CIP, a AEP, a CTP, etc não o diriam melhor, até porque já o disseram…
Os advogados deste axioma (as Confederações do grande capital declinam-no há décadas), nunca esclarecem é «a seguir» ao «quê» (e também, quando) podem os salários subir. Nunca há para essa gente conjuntura adequada para aumentar salários…chova ou faça sol! Aliás foi e é assim que Portugal se apresenta como um dos países de mais baixos salários da UE e da Zona Euro, mesmo na comparação com outros com idênticos níveis desenvolvimento económico e produtividades.
Ora, num quadro de brutal redução da procura externa, a questão central é garantir que o mercado interno aguenta, e até compensa, as restrições externas. Ou seja, na conjuntura que vivemos, salvar as empresas portuguesas, e a maioria das micro, pequenas e médias empresas, que esmagadoramente trabalham para o mercado interno, passa exactamente por fazer o contrário do que aquelas almas referem: aumentar salários a começar pelo SMN. Aumentar salários para travar o crescente endividamento das famílias e responder ao flagelo vergonhoso dos trabalhadores pobres. Aumentar salários para responder aos riscos da deflação em curso. Como assinala, no mesmo Expresso, João Duque «a zona euro entrou em deflação. (…) Portugal foi anunciado como um dos países que contribuíram para esta queda do indicador europeu!» E conclui, que apesar das sucessivas bazucas do BCE de «injecção de liquidez» , «os resultados são estes…», isto é: a deflação! Talvez seja a altura de mudar de táctica e aumentar os salários…
Depois porque “esquecem” que o peso das remunerações da produção das empresas (certamente com variações, é em média de 16,6%.
De facto, o que não querem é enfrentar e afrontar os grandes interesses económicos responsáveis pelos outros e altos custos de produção das empresas portuguesas. Nem eles, diga-se, nem o Governo PS/Costa.
Os custos do crédito e dos seguros. O Governo faz propaganda desde Julho, de uma Linha de Crédito para as micro e pequenas empresas de mil milhões de euros. Mas para que a freguesia não seja muita, resolveu limitar tal linha apenas a empresas que tenham tido «uma quebra abrupta e acentuada de pelo menos 40% da sua facturação»…coisa que não exigiu para as anteriores linhas de crédito.
Os custos da energia – porque não os limitar aos níveis médios da zona euro? Os custos das telecomunicações – porque espera o Governo, face às análises do regulador para intervir?
Os custos das rendas de milhares de empresas, quer das localizadas em centros comerciais – o Governo tergiversa em fazer concretizar o que ficou decidido no Orçamento Suplementar – quer do comércio de rua – não teve resposta porque PS e PSD recusaram as medidas apresentadas.
Há assim formas de ajudar a «sobreviver» «milhares de empresas», que não passam pelo congelamento salarial, a tal «austeridade» que o Governo diz não praticar…