A base dos meus pensamentos sobre o enriquecimento das pessoas não assenta em nenhuma ideologia política, mas sim na partilha natural de riqueza porque ao trabalho entregam grande parte da sua vida. Este é um ponto basilar. No entanto, para além da quantidade de horas e dias que uma pessoa passa no trabalho, há um outro fenómeno que está diretamente associado à sustentabilidade de uma empresa – o rendimento.

Portanto, juntando os fenómenos, se o lucro de uma empresa for partilhado pelos trabalhadores, parece óbvio que eles vão querer o melhor resultado para a sua empresa! Por isso entendo que deve estar instituída uma cultura generalizada de partilha de riqueza que vai para além do salário e certamente levará o trabalhador a identificar-se com o pensamento:

  • Se a empresa ganha com o meu trabalho, eu ganho uma parte desse valor. Assim também enriqueço com o enriquecimento global da empresa.

Ao contrário, a forma de pensar dos trabalhadores está fortemente enraizada na troca e não na partilha:

  • Eu trabalho e por isso me pagam.

É um pensamento lógico, sim, mas extremamente redutor porque pressupõe que se está a pagar uma carga horária, uma assiduidade, uma regularidade, um quotidiano, uma rotina, uma tarefa, potenciando a passividade mental, a baixa criatividade e iniciativa, ou seja, não vai além do óbvio e de uma liderança inexplorada. Isto é extremamente atrofiador do espírito empresarial.

O que eu defendo nesta abordagem é simples e assenta na atitude de líder:

  • Cada um pode ser mais do que fazer, do que ser previsível, do que ser rotineiro. Em cada posto, em cada momento, uma pessoa pode sentir algo mais se estiver motivado e mentalmente disponível para tal.

A liderança deve ser premiada, mas é preciso olhar para a liderança não só pelo lado do organigrama, do convencionado de que os líderes são apenas as chefias, mas sim pelo pressuposto de que todos os trabalhadores são líderes de si mesmos.

As pessoas lideram a sua atitude física e mental a cada instante da vida. Se são capazes de grandes feitos para as suas vidas, para com a sua família, para com os seus amigos e comunidade, ou até quando se vêm enrascados na sua vida pessoal, então, essa atitude pode ser extrapolada para dentro da empresa, sendo estimulados a enriquecer com o enriquecimento da empresa.

A sua empresa deve ser efetivamente sentida como uma empresa sua.

Portanto, é descabido que uma empresa promova o enriquecimento dos acionistas, dos administradores, alguns diretores e algumas chefias intermédias, deixando o grosso da coluna em modo salário de sobrevivência. A famosa lógica nacional de gerir remunerações com base no salário mínimo ou multiplicador deste. Por vezes, lá aparece um prémio para compor o ano, mas sem qualquer indexante a resultados. Até há empresários que não querem que os trabalhadores saibam o resultado.

Em termos de cultura global do país, deveríamos ser capazes de empreender melhores culturas empresariais por forma a não acentuar tanto o desfasamento entre a riqueza e a pobreza, essencialmente de quem trabalha. Até porque, para muitos, a oportunidade de fazer algum pé-de-meia é mesmo com o seu próprio trabalho.

Por fim, e para concretizar um pouco esta reflexão, desafio os empresários, gestores em geral, a pensarem nestas contas, adaptando-as à sua própria realidade: se a empresa partilhar com os colaboradores cerca de 5% dos seus resultados, tal pode significar para estes um incremento do seu rendimento anual na ordem dos 7%.

Assim, podemos imaginar as pessoas a receber, como habitualmente, na base de uma política de remuneração de mercado e, como extra, um valor indexado aos resultados da empresa. Isso pode significar um enriquecimento do trabalhador acima de 7% ao ano o que é um excelente investimento em si mesmo.

Nota: tenho consciência que as contas de exploração são diferentes de empresa para empresa, pelo que o exemplo apresentado terminará sendo ajustado em cada organização. O importante é o princípio.