Os últimos meses têm sido marcados por muita volatilidade nos mercados financeiros, sobretudo nas bolsas, impulsionada pela atuação de Donald Trump no contexto da “Guerra Comercial”. O receio de uma desaceleração económica global, com epicentro nos EUA e na China, provocou uma correção significativa nos principais índices bolsistas. Durante a sessão de 4 de abril, o S&P 500 chegou a acumular perdas de 20% face aos máximos históricos – um limiar frequentemente apontado, de forma algo arbitrária, como definidor de um “bear market”.
Importa distinguir que nem todos os bear markets são iguais, com a literatura financeira a identificar três tipos: o bear market cíclico (“cyclical bear market”), o estrutural (“structural bear market”) e o desencadeado por eventos (“event-driven bear market”).
O bear market cíclico está tipicamente associado ao ciclo económico, surgindo após períodos de expansão, muitas vezes devido ao aperto da política monetária – como a subida das taxas de juro para controlar a inflação. Nestes casos, as quedas médias rondam os 30% e a duração média é de 2a meses. Já o bear market estrutural resulta de desequilíbrios profundos ou do rebentamento de bolhas, como se verificou em 2008 (crise do subprime) ou em 2000 (bolha tecnológica). Estes episódios tendem a ser mais longos e dolorosos, refletindo mudanças estruturais na economia ou no sistema financeiro. Em média, os bear markets estruturais registam quedas de 57% e uma recuperação de 42 meses.
Existem também os bear markets desencadeados por eventos (event-driven bear markets), caracterizados por quedas rápidas, causadas por acontecimentos específicos. Exemplos recentes incluem a pandemia de Covid-19 ou, no presente, o choque das tarifas comerciais. Estes bear markets costumam ser mais curtos e menos profundos, com recuperações rápidas, já que a origem do choque é mais facilmente identificável e, por vezes, reversível.
O contexto atual pode encaixar-se neste último tipo. A queda abrupta dos índices, motivada sobretudo pelo anúncio de tarifas e pela escalada verbal entre EUA e China, apresenta características de um event-driven bear market: reação rápida, elevada volatilidade e potencial para uma recuperação igualmente célere, sobretudo se surgirem surjam sinais de trégua ou medidas que agradem aos mercados como cortes de impostos ou incentivos fiscais.
Ainda assim, subsiste a dúvida: poderá a desaceleração económica transformar este bear market num episódio cíclico ou estrutural? Por agora, a resposta parece depender da atuação política. Os mercados, como sempre, reservam o direito de surpreender.