Tal como previam as sondagens, Marcelo Rebelo de Sousa foi reeleito à primeira volta para um segundo mandato como Presidente da República. Marcelo reforçou a sua legitimidade e foi, sem dúvida, o grande vencedor destas eleições. Qualquer análise que se faça ao resultado destas eleições presidenciais não pode fugir a este facto central. Mas não foi o único vencedor destas eleições.

1. Marcelo Rebelo de Sousa

Marcelo ganhou não só porque é popular, mas também porque é um democrata-cristão no verdadeiro significado do termo, capaz de atrair todos aqueles que defendem a economia social de mercado e rejeitam os diferentes extremismos. Por outras palavras, a maioria dos portugueses. Marcelo sai destas eleições com legitimidade reforçada, numa altura em que Portugal tem pela frente enormes desafios e em que se adivinha uma crise política no horizonte. O Presidente poderá desempenhar um papel central nos próximos anos e este reforço da sua legitimidade é positivo para o País.

Ao contrário do que disse ontem Ana Gomes, não foi a sua candidatura que impediu um resultado mais expressivo de André Ventura. Na verdade, foi o próprio Marcelo que (juntamente com Tiago Mayan Gonçalves), colocou um travão a Ventura, impedindo-o de conquistar terreno no eleitorado da direita moderada. Ao recusar cair na armadilha de demonizar o Chega e de pedir a sua ilegalização, Marcelo optou por confrontar Ventura no plano das ideias. E ao fazer isso teve oportunidade de vincar as diferenças entre a sua direita e a de Ventura, bem como de desmontar a colagem deste ao catolicismo. Claro, com isto Marcelo perdeu votos no eleitorado mais à direita, que fugiu para Ventura, mas manteve o apoio da direita moderada e conseguiu ir buscar votos ao centro e à esquerda.

Por outro lado, ao contrário do que disse Ventura no seu discurso na noite eleitoral, não foi a sua candidatura que “esmagou a esquerda”, mas sim a de Marcelo. Foi a força da candidatura do atual Presidente – assente na ligação direta com os portugueses que construiu durante décadas de comentários televisivos – que obrigou o PS a não ter outro remédio senão apostar no cavalo vencedor, tirando votos a Ana Gomes e inviabilizando outra candidatura da área socialista. De igual modo, João Ferreira e Marisa Matias também terão perdido votos para Marcelo.

2. André Ventura

Embora tenha ficado em terceiro lugar, o segundo grande vencedor destas eleições foi, sem dúvida, André Ventura. Se o Chega conseguir replicar o resultado de ontem nas legislativas, ficará com quase 20 deputados na Assembleia da República. O Chega será uma força incontornável na direita, ficando o PSD refém de André Ventura.

Segundo a sondagem ontem divulgada pela RTP, que foi realizada à boca das urnas, se as eleições legislativas fossem agora, o PS teria 35% dos votos, contra 23% do PSD, 9% do Chega, 8% do Bloco de Esquerda e 7% da Iniciativa Liberal (cujo candidato nestas presidenciais, Tiago Mayan Gonçalves, fez uma boa campanha e construiu algo para o futuro).

3. António Costa

O primeiro-ministro e o Governo do PS são provavelmente os maiores beneficiados pela reeleição de Marcelo e pela ascensão de André Ventura. A situação do país não permite que Marcelo cumpra a tradição de fazer um segundo mandato com maior conflituosidade na relação com o Governo. A reeleição de Marcelo é positiva para o Executivo. Já a ascensão de Ventura e do Chega coloca a esquerda sob pressão, facilitando a vida ao PS nas negociações com o Bloco e o PCP (os quais, além disso, pensarão duas vezes antes de contribuir para uma crise política no curto prazo, tendo em conta os fracos resultados dos seus candidatos nas eleições de ontem).

Por outro lado, a ascensão de Ventura atira o PSD para uma situação incómoda em que terá de decidir se faz uma aliança com a extrema-direita para poder ambicionar um regresso ao poder. Tal decisão poderá dividir o partido, mas quanto mais cedo tiver lugar essa clarificação, melhor.