Portugal teve em 2020 uma das maiores quedas do PIB da história moderna, com uma contração do PIB de 7,6%, acima da média da zona euro de 6,5% sendo a quinta economia com pior performance, atrás apenas da Espanha, Grécia, França e Malta. Não obstante, de acordo com as previsões de verão da comissão europeia, todos estes países, com exceção da Grécia e Portugal, terão um crescimento acima da média da zona euro (4,8%). Para este cenário terá contribuído o facto de Portugal e Grécia terem sido dos países que menor aproveitamento fizeram das suspensão de boa parte dos condicionalismos aos apoios de estado às empresas por via da vigência do estado de emergência.
Assente num modelo de apoio à economia mais baseado em moratórias fiscais e de crédito, o governo português terá conseguido apoiar boa parte do tecido empresarial em termos de necessidades de liquidez, mas não de solvabilidade. As medidas de combate à pandemia que implicaram condicionamento das atividades económicas, fizeram boa parte das empresas acumularem meses atrás de meses de custos fixos sem fluxos de receita que permitissem sustentar o valor das mesmas. Neste cenário, a grande dúvida prende-se com o grau de destruição de empresas e emprego que poderá acontecer à medida que as moratórias forem sendo descontinuadas e os privados tiverem de voltar a reembolsar juros e capital em dívida, dívida esta agora bem maior devido aos prejuízos acumulados.
O que podemos esperar então do último trimestre de 2021? Harry Truman, presidente dos EUA no fim da segunda guerra mundial confessou uma vez que gostaria de ter um conselheiro económico maneta. Porque sempre que perguntava o que poderia acontecer, o seu conselheiro económico dizia on one hand… but on the other hand…
Para não desiludir, por um lado, alguns indicadores, como o indicador diário de atividade económica do Banco de Portugal, parecem sugerir que o nível de atividade da economia portuguesa está próxima do que havia sido observado em 2019. O próprio Banco de Portugal, mais otimista que a Comissão Europeia, prevê para Portugal um crescimento económico em 2021 de 4,8%. Na base deste cenário está a premissa de que o fim de alguns dos apoios temporários à economia não terá efeitos adversos significativos sobre a atividade económica.
Para já esta premissa não estará em causa, uma vez que os créditos sob moratória já estão a diminuir sem que se observe um aumento do crédito mal parado. Entre dezembro de 2020 e junho de 2021, a percentagem de crédito total sobre moratória nas sociedades não financeiras terá descido cerca de seis pontos percentuais, sem que isso se traduzisse num aumento do crédito malparado, que no mesmo período terá recuado perto de meio ponto percentual. Do lado das famílias, o desemprego não mostra para já sinais de alarme.
Mas por outro lado, alguns indicadores sugerem cautela na análise. No segundo trimestre, a taxa de crescimento homóloga das insolvências atingiu 10,9%. Se os sinais positivos iniciais da redução do crédito sobre moratória e o seu impacto no crédito mal parado não se confirmarem, o sistema financeiro pode ter problemas. Se um quarto dos empréstimos sob moratória se tornarem não produtivos, o montante total dos mesmos pode atingir o valor total da capitalização dos bancos, incluindo provisões. Previsões feitas com base em relações históricas entre a quebra no nível de atividade económica e o aumento associado no crédito mal parado, sugerem que esse é um cenário bastante provável.
Dito isto, face às perspetivas de junho da comissão europeia de um crescimento para a economia portuguesa de apenas 3,9% em 2021, o cenário poderá ser mais otimista que o esperado e podemos esperar um último trimestre com uma revisão em alta que possa permitir um crescimento para 2021 acima dos 4%. Não obstante, estamos ainda a beneficiar de um processo de recuperação económica que beneficia do fim progressivo dos condicionamentos à atividade económica por via do esforço de controlo da pandemia. A verdadeira prova dos nove virá em 2022.