No âmbito dos homicídios por violência doméstica a maioria das crianças que ficam órfãs ou privadas da presença de um dos progenitores por suicídio ou prisão dos mesmos, não recebe apoio especializado.

Ora os menores que sobrevivem a estes crimes passionais são vítimas diretas dos mesmos e precisam de assistência, sob pena de o seu futuro estar a ser negligenciado e o Estado ser cúmplice. O sistema de referenciação das vítimas que inclui a Polícia Judiciária em primeira linha, deveria ser automático e não depender da recetividade das famílias de acolhimento.

Aliás, este é o modelo adotado com sucesso noutros países da Europa, designadamente no Reino Unido. Além do apoio psicológico, as crianças deveriam poder pedir imediatamente um adiantamento da indemnização prevista para as vítimas destes crimes.

Cada vez mais os crimes de violência doméstica são uma fatídica realidade e muitos destes jovens acabam à guarda do Estado e a viver em casas de abrigo. Um sistema que age reativamente e não preventivamente é um sistema que acaba por ser responsável pela delinquência dos jovens que na altura certa não receberam o apoio adequado.

As crianças levarão anos para processar o choque que estas situações lhes causaram, podendo ser potenciadoras de contextos miméticos mais tarde. É preciso que a classe política olhe atentamente para estes casos e os trate com a responsabilidade que eles merecem.

O processo de luto de uma criança é completamente diverso do de um adulto, mas ela procura sempre vínculos de afeto que uma vez negligenciados poderão custar mais um potencial agressor no futuro.

Sem um plano global que defina prioridades para estes menores, designadamente com a criação de centros especializados no acompanhamento dos mesmos, não se fará o combate transversal, sério e eficaz a este flagelo que infelizmente parece não querer abrandar.