Ao contrário do que sucede em Portugal que, na terceira República, nunca conheceu um Presidente que só tivesse realizado um mandato, a história recente das eleições presidenciais norte-americanas é rica em exemplos de Presidentes que não foram reeleitos. A fazer fé nas sondagens, Trump é um sério candidato a seguir as pegadas de George H. W. Bush ou de Jimmy Carter e a ceder a vez na Casa Branca ao fim de apenas quatro anos.

Num ano marcado por uma pandemia arrogantemente subestimada pelo Presidente, por uma gestão desastrosa dos abusos policiais sobre negros, e agora pela revelação do escândalo das suas declarações fiscais, as coisas não têm estado fáceis para Trump. Se é verdade que algumas medidas da sua Administração, como a redução de impostos sobre as empresas, os estímulos à repatriação do emprego na indústria e o pacote anti-Covid de apoios à economia, lhe granjearam popularidade interna, não é menos verdade que as projeções dos resultados eleitorais têm oscilado entre serem-lhe desfavoráveis e muito desfavoráveis. Há, pois, a convicção de que, se ambiciona ser reeleito, Trump terá que lançar uma carta que vire o jogo a seu favor.

No momento em que este texto é escrito, o primeiro debate entre Trump e Biden ainda não ocorreu. Espera-se que seja um momento de entretenimento, para o qual o atual Presidente parte como favorito. Trump é agressivo, não tem pudor nem escrúpulos e fala claro. Quem não se lembra de o ouvir prometer a Hillary Clinton, olhos nos olhos, que se fosse eleito a colocaria na cadeia? Tudo indica que, com Biden, o nível não vai subir. Trump tem troçado da agilidade mental do seu adversário, referindo-se a ele como “Slow Joe” e “Sleepy Joe”. Por outro lado, Biden, um político experiente, deverá contra-atacar com considerações sobre o caráter e a honestidade do seu adversário, a que as revelações jornalísticas destes dias darão força.

Contudo, de acordo com um estudo conduzido pelo “Economist”, só muito raramente os debates presidenciais norte-americanos alteram os resultados eleitorais. Analisadas as sondagens de várias eleições nos quinze dias antes e após os debates, conclui esta publicação que só uma vez (na corrida George W. Bush vs. Al Gore) a tendência das sondagens se inverteu. É, pois, de esperar que por mais entertaining que sejam os debates, não se mostrem decisivos.

Apesar disto, os rumores sobre a “morte antecipada” de Trump são claramente exagerados. Primeiro, a desvantagem nas sondagens não é muito diferente da que se registava em 2016 quando defrontou e venceu Hillary. Depois, o sistema eleitoral norte-americano potencia erros de previsão sobre o vencedor. Basta ter presente que o candidato com mais votos não é necessariamente o ganhador (em 2016, Hillary, que liderava as sondagens e teve mais três milhões de votos, perdeu as eleições). Por outro lado ainda, recorde-se que o consenso em torno das críticas a Trump e ao seu estilo está muito mais no exterior do que a nível interno, onde há muitas críticas (muitas vindas das elites) mas também há muitos apoios.

Talvez George Soros, que antecipava numa entrevista recente que Trump anunciará uma vacina para a Covid-19 antes da eleições, esteja certo. Não sabemos se o fará nem tão-pouco o impacto de tal anúncio. O que sabemos é que, num tempo marcado por desafios globais, com as alterações climáticas à cabeça, a possível de reeleição de Trump será uma má notícia em toda a escala.