Não há dúvida que os primeiros tempos de cooperação institucional entre o Governo de António Costa e a Presidência da República de Marcelo Rebelo de Sousa mudaram o panorama político em Portugal. Até ver, primeiro-ministro e Presidente compreenderam perfeitamente o tempo político em que entraram em cena e o papel que deveriam assumir no teatro político nacional e internacional, bem como lidar com a situação social e psicológica do País.
O Governo de António Costa nasceu torto, na sequência de uma jogada parlamentar que rompeu com décadas de tradição democrática, mas rapidamente teve a habilidade de fazer esquecer esse episódio. Diz-nos o Financial Times que o primeiro ano de governação superou as expetativas. É uma evidência. As expetativas eram tão baixas que a mera sobrevivência de um governo nascido de uma aliança aparentemente impossível já seria uma superação. Se acrescentarmos a isso a capacidade demonstrada para dominar partidos historicamente anti poder, aprovar pacificamente orçamentos, controlar o défice, satisfazer a Europa, conciliar sindicatos e patrões, aproximamo-nos de uma espécie de milagre político.
Marcelo recebeu uma Presidência num estado lastimável de popularidade e totalmente distanciada do cidadão. Num ápice, compreendeu que o momento era para ser omnipresente e um exemplo de afeto, de proximidade com os cidadãos e de mensagens simples e perfeitamente percetíveis por todos. Era tempo de selfies e mergulhos de ano novo.
No fundo, independentemente das opções políticas concretas, ambos entenderam que teriam que, vincadamente, marcar a diferença em relação aos seus antecessores. E têm marcado. O País precisava de arejar, estabilizar e motivar-se. Nesse aspeto, Costa e Marcelo têm sido uma lufada de ar importante.
Achar que a política se pode fazer com meras mensagens de fatalismo, mesmo que essa seja a realidade mais óbvia, é amputar o próprio conceito de política. Há várias definições para esse conceito. Mas é e será sempre uma arte de transformar, motivar, negociar, mobilizar uma comunidade para fins comuns e que permitam transformar a realidade. Marcelo e Costa têm percebido isso muito bem.
Estará o País muito melhor? Nem por isso. O Estado continua por reformar e entregue a grupos de interesses e, obviamente, assim continuará, pois é o principal preço a pagar aos aliados parlamentares da extrema-esquerda; os impostos continuam a ser um “anticlímax” da poupança e criação de riqueza; a saúde do sistema financeiro, que de forma tão irresponsável e populista foi lidada pelo anterior governo, continua a precisar de cuidados intensivos; a dívida continua a ser um “machado nas nossas cabeças” que dificilmente será aliviado sem crescimento económico robusto e uma solução europeia.
Mas, independentemente dos problemas endémicos, há mais confiança e otimismo. Não há progresso possível sem estes dois fatores, mas tal como o Presidente da República fez questão de realçar na sua mensagem de ano novo, “2017 deveria ser o ano da gestão a prazo e da definição e execução de uma estratégia de crescimento económico sustentado.” Será isso possível em Portugal?