No fim de semana foi a cimeira do G7, com a questão da economia internacional estar ou não a caminho de uma recessão em pano de fundo. É verdade que o programa era ambicioso, com temas de grande alcance, mas todos esperavam ver algum sinal de Trump sobre o conflito comercial entre os EUA e a China, que está a abrandar as trocas internacionais, desacelerando a economia mundial. Porém, após três dias de trabalhos ficou definitivamente provado que o G7 se tornou uma inutilidade prática, tão claras e notórias foram, mais uma vez, as divisões entre Trump e os outros.
Não ajudou Conte estar demissionário, depois de no Senado italiano acusar Salvini de pôr o interesse pessoal à frente do do país e da utilização política de símbolos religiosos (a “inconsciência religiosa”, ao que Salvini respondeu beijando um rosário). Também não ajudou Boris Johnson e o jogo do empurra que faz com a União por não haver um acordo de Brexit, sobre o qual continua a não apresentar propostas concretas.
Para sua sorte, não é provável que um Brexit sem acordo seja o apocalipse que os seus adversários apregoam: citando Puissesseau, presidente do Porto de Boulogne-Calais, acerca dos cenários de caos na ligação Dover-Calais, “c’est la bullshit!”. Isto irá, aliás, permitir-lhe reivindicar vitória qualquer que seja o resultado pós-Brexit, para desespero dos remainers. Para já, valeu a Boris ter arrancado a Trump na cimeira meias palavras sobre um acordo comercial que terá melhor probabilidade de conseguir levar à prática se Trump não for o próximo inquilino da Casa Branca.
Quanto ao quo vadis da economia mundial, no domingo, Trump animou a malta ao admitir que tinha “segundos pensamentos” acerca do aumento das tarifas sobre os produtos chineses, declaração tomada como favorável ao desanuviar das relações comerciais. Mas Stephanie Grisham, porta-voz da Casa Branca, esclareceu no dia seguinte que ele queria dizer que gostaria de ter elevado as tarifas ainda mais. Ou seja, a coisa está para durar.
A guerra comercial entre americanos e chineses tem provocado incerteza, com ações e retaliações, e o retrair das decisões de investimento e da confiança dos consumidores, levando à queda da procura e da produção. Em Jackson Hole, onde teve lugar o simpósio anual organizado pela Fed, este ano dedicado aos desafios da política monetária, a preocupação era com a falta de margem desta política, apertada entre taxas diretoras historicamente baixas (2% nos EUA e 0% na zona euro) e stocks de dívida muito elevados nos balanços dos bancos centrais, para enfrentar uma eventual recessão.
A isto Jerome Powell acrescentou não ser a política monetária a ferramenta apropriada para agir sobre a balança comercial. Sobre ele Trump postou no Twitter: “Quem é o nosso maior inimigo, Jay Powell ou Xi Jinping?” É preciso ter paciência.