Os pagamentos contactless (sem contacto) continuaram a crescer em novembro, representando 35% do total de faturação dos negócios em Portugal, o que corresponde a um disparo de 27 pontos percentuais relativamente ao mesmo mês de 2019, de acordo com os dados da rede de aceitação de cartões Reduniq.
“Houve um efeito da desmaterialização do dinheiro em que o contactless cresceu muito. Cresceu, naturalmente, pela migração dos cartões normais, mas também por entrada no sistema, por transformação daquilo que eram pagamentos em dinheiro por pagamentos em meios eletrónicos”, referiu Rui Dias Alves, CEO da consultora Return on Ideas, na sessão online do departamento de analítica da Reduniq (“Insights”).
No entanto, o 11º mês de 2020 significou uma nova fase de quebra do consumo no país, com o número acumulado de transações e da faturação total do ano a atingirem diminuições homólogas de 12,50% e de 18,05%, respetivamente. A marca da Unicre apercebeu-se de que houve um ligeiro piorar da performance no decurso de um “estranho” mês de novembro, condicionado por um conjunto de novas e exigentes medidas para limitar a evolução da pandemia.
“Novembro, que tipicamente seria o mês do arranque do «fenómeno» Natal, com um aumento do número transações, revelou este ano uma incapacidade de aceleração do consumo. As novas restrições foram, de facto, limitantes na relação com um amplo conjunto de categorias que deveriam ter conseguido crescer e que, pelo contrário, agravaram quebras face ao homólogo de 2019 (para mais, num período em que se enquadrou a Black Friday)”, pode ler-se no relatório da Reduniq divulgado à imprensa.
Os analistas concluíram que as categorias mais prejudicadas com as medidas restritivas foram a moda (que passou de uma redução homóloga de 15% em outubro para -35% em novembro), a restauração (de -10% para -27%), as gasolineiras (de -7% para -17%), e as perfumarias (de -14% para -22%). Por outro lado, os sectores do retalho alimentar e da saúde viram a faturação aumentar de 53% para 70% e de 23% para 36%, pela mesma ordem.
Quanto às promoções extraordinárias, apesar do aumento transacional registado a 27 de novembro, a Black Friday apresentou valores de faturação 16% abaixo do mesmo período do ano passado.
Todavia, a rede Reduniq não denota uma queda abrupta do consumo dos portugueses em termos homólogos, pois a “grande perda” – de quase 60% – foi nos gastos dos turistas, devido à quase ausência de consumidores estrangeiros. Aliás, no ranking dos distritos com maior perda de faturação acumulada lideram as regiões do país que mais sentiram a diminuição do número de turistas: Faro (-28%), Lisboa (-26%), Madeira (-21%), Porto (-16%) e Açores (-16%).
“É importante e muito interessante ver a subida do consumo interno. O português passou a consumir mais. Tem alguma lógica. O português deixou de poder viajar, deixou de poder consumir lá fora”, destacou o diretor da Reduniq, na talk intitulada “O retalho à entrada de 2021: interpretando a história de nove meses de pandemia”.
“Apesar das medidas de recolhimento a partir das 13 horas em vários concelhos no decorrer dos dois fins de semana seguidos de tolerância de ponto e feriados, a verdade é que assistimos a uma importante retoma da dinâmica de recuperação, no que acreditamos ser a entrada em modo Natal, aliada ao anúncio do alívio das restrições a impor pelo Governo durante a semana de Natal”, afirmou ainda Tiago Oom.
Já Rui Dias Alves resumiu estes últimos meses em oito ideias-chave: uma inegável profunda crise; uma crise feita de crises assimétricas; um sistema que não recuperará sem o turismo; a desafiante realidade das grandes cidades de serviços; um sistema de consumo condicionado pelas regras; viver numa realidade limitada define um novo consumidor e um novo shopper (comprador); o novo valor da(s) proximidade(s) e uma nova relação com o dinheiro, que se desmaterializa.
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