No momento em que escrevo estas linhas ter-se-á já realizado a manifestação de todos os sindicatos bancários, subscritores do Acordo Colectivo, em pleno Taguspark e campus do BCP. Momento simbólico, porque foi a primeira vez, desde o 25 de Abril, que todos os sindicatos desfilaram juntos.
Quer os sindicatos membros da União dos Sindicatos Independentes (USI) quer os da União Geral de Trabalhadores (UGT), num momento de comunhão naquilo que verdadeiramente nos preocupa: a defesa dos interesses dos trabalhadores, reformados e pensionistas bancários. Do Grupo BCP, em particular, mas de toda a classe bancária, como um todo, também.
Sindicatos verticais e sindicatos horizontais (de quadros e técnicos) juntos. Onde os extremismos não têm lugar. Sindicatos cujos sócios são cidadãos que pagam impostos e exercem os seus direitos de cidadania, mormente votando e fazem ouvir a sua voz. Porque queremos a mudança, porque queremos denunciar a injustiça, fazemos ouvir a nossa voz.
E vieram pessoas de todas as idades e situação profissional. De todo o país. Desde o planalto transmontano e a fronteira do Minho, até às cidades do litoral algarvio. Vieram todos. Novos e velhos. Administrativos, técnicos, gerentes, quadros superiores. Todos. Muitos.
Como é cada vez mais evidente, ouvindo, vendo e lendo o que se tem dito nas sucessivas comissões de inquérito parlamentares, as imparidades bancárias tiveram, amiúde, origem num punhado de indivíduos que usaram os bancos enquanto instrumento dos seus objectivos de poder. Ignorando as boas práticas bancárias de concessão prudente e criteriosa de crédito. Ignorando os pareceres, ou não os solicitando, dos departamentos de análise de risco.
Mas foram os trabalhadores que pagaram, de forma desproporcionada, os custos de ajustamento e reestruturação que se seguiram.
Por isso, estamos crentes que apenas com todos, trabalhadores, clientes, accionistas e gestores, será possível aos bancos a operarem em Portugal voltarem a ser lugares onde apetece trabalhar. Numa altura em que os accionistas começam a ser remunerados pelo seu investimento, é particularmente desconcertante que um grande banco não queira discutir as atualizações salariais do ano de 2018, quando já todos os bancos o fizeram. Contribuindo para uma nova erosão do poder de compra dos seus trabalhadores. Também não nos parece razoável que vá demorar vários anos (quantos?) a proceder à devolução dos valores retidos pelos trabalhadores.
Protestar, fazer ouvir a sua voz, é típico de cidadãos que querem continuar a ser membros activos, conscientes e participativos da sociedade que os rodeia. Essa participação é condição para uma sociedade mais justa e equilibrada.
Ficar em casa, não se manifestar ou não votar, é contribuir para que os retornos do capital subam enquanto as remunerações do trabalho estagnam ou caem. É contribuir para que “homens e mulheres providenciais” forneçam “soluções chave-na-mão”, como se tem visto um pouco por toda a Europa. Soluções que nunca o são, e que no final substituem o poder de uns pelo poder de outros.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.