O concelho de Lisboa é aquele que tem mais empresas e o que concentra o maior número de trabalhadores. Uma boa parte das ofertas de emprego são para Lisboa, que todos os anos continua a recrutar um elevado número de candidatos provenientes de fora daquela cidade.

O problema é que na capital estão hoje a ser praticados preços absurdos no mercado habitacional. O preço médio do arrendamento de um T1 anda neste momento na ordem dos 1.000 euros mensais, e o de um quarto nos 550 euros. E para quem considera que a solução poderá residir na aquisição, deve ficar a saber que um pequeníssimo T0 já pode custar mais de 300 mil euros. Ora, como as pessoas estão a ser empurradas para fora de Lisboa, os preços nos concelhos limítrofes estão a disparar; o que é preocupante, pois a carteira dos portugueses não estica.

Tendo em conta que o salário médio no concelho de Lisboa é de 1.550 euros mensais ilíquidos (incluindo subsídios), então recorrendo ao exemplo “clássico” de uma pessoa solteira sem dependentes a cargo, tal corresponde a um valor líquido em torno dos 1.100 euros. Realizando ainda cálculos simples com base nas estatísticas do INE, é possível descobrir que alguém com este “perfil” gasta, em média, 475 euros mensais naquela cidade só com alimentação, saúde, transportes e comunicações. Terá por isso de se contentar com um quarto, para que lhe possam sobrar uns trocos para outras despesas que podem incluir vestuário, calçado, acessórios para o lar, etc. Em princípio, este indivíduo não conseguirá gerar poupança. Lisboa não está para qualquer bolso!

Se a subida acentuada dos preços no sector da habitação se mantiver em velocidade cruzeiro, e se os salários continuarem a caminhar a passo de caracol, então muitos dos que trabalham em Lisboa continuarão a perder bem-estar, sendo que diversas empresas também poderão vir a enfrentar dificuldades. Afinal de contas, como poderão atrair mão-de-obra qualificada se os salários continuarem a ser dos mais baixos em toda a OCDE, ao mesmo tempo que a cidade se vai tornando numa das mais caras do mundo? Como conseguirão crescer num mercado cada vez mais global e competitivo se deixarem de contar com os seus melhores? Ou será que alguém acredita que iremos ter gente disposta a pagar para trabalhar no “stress lisboeta”?

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.