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País vive “momento digno de relevo” com crise na logística

Os portos nacionais apresentam-se como principais alternativas às mudanças nas rotas internacionais do transporte de mercadorias e a dependência externa deve ser repensada, considera Diogo Vaz Marecos, da Yilport.
29 Maio 2022, 17h00

A pandemia de Covid-19 e a guerra na Ucrânia agravaram uma crise no sector da logística que obrigou a repensar a forma como a globalização beneficiou certos países em detrimento de outros. Neste campo, Portugal, está a investir na modernização dos seus portos marítimos, com o objetivo de ser a alternativa à ligação com o Atlântico numa Europa que se aproxima cada vez mais do continente americano e que procura reduzir a dependência da China e, agora, também da Rússia.

A JE Talks promovida pelo Jornal Económico teve como intervenientes o subdirector do JE Nuno Vinha e o diretor-geral regional da Yilport Ibéria, Diogo Vaz Mareco, que apresenta uma visão otimista do país para a presente década, embora reconheça e identifique os vários problemas e desafios que se colocam ao sector da logística.

“Ensaiamos um início de 2022 com esperança, com uma tímida recuperação, para sermos todos surpreendidos com o eclodir de um conflito dentro da própria Europa. Isto, dentro daquilo que já eram fortes condicionantes, veio agravar ainda mais o problema”, começa por dizer o responsável da Yilport.

Um dos primeiros problemas elencados por Diogo Vaz Marecos prende-se com a falta de recursos humanos do sector, que se agravou com a invasão russa à vizinha Ucrânia, dado que cerca de 15% das tripulações disponíveis no sector dos transportes de mercadorias são compostas por cidadãos russos e ucranianos. Em seguida, junta-se a proibição de navegação aos navios russos, fruto das sanções impostas pelo ocidente a Moscovo. “Teve de haver uma reconfiguração, mais uma vez, de equipas já por si fragilizadas, por também elas terem sido alvos de contágios de Covid-19”, explica. Precisamente o vírus que provocou constrangimentos na China devido à política ‘Covid Zero’, que implicou confinamentos em algumas das principais cidades, como por exemplo Shangai. Segundo o diretor-geral da Yilport, “o fluxo contínuo daquilo que é a produção acaba por ser suspenso e interrompido. Isto é a pior coisa que podemos ter num ciclo logístico”.

Todas estas condicionantes, sem surpresa, fizeram disparar os preços dos fretes marítimos que, antes da pandemia, estavam cifrados nos dois mil dólares (1,8 mil euros) e que, em 2021, atingiram os 15 mil dólares (14 mil euros), estando agora nos dez mil dólares (9,3 mil euros), refere. “Isto, multiplicado por vários meses, tem levado a uma situação de aumento dos custos aos quais nós ainda temos de juntar os custos de energia e combustíveis. Não conseguimos, até ao final do ano provavelmente, ter uma solução como todos gostaríamos e de voltarmos àquela normalidade, mas com o tempo acreditamos que vamos chegar”.

Ainda assim, do ponto de vista nacional, abriu-se uma janela de oportunidade que o responsável da Yilport espera que não seja desperdiçada a curto e médio prazo: Portugal apresentar-se como país-chave para o comércio marítimo internacional, com foco no mercado norte-americano. “Nós estamos a passar um momento digno de relevo. Esta aposta que está a ser feita na ferrovia e a modernização dos portos portugueses, dos quais nós na Yilport participamos diretamente, tem dado um contributo muito importante”. A Yilport está responsável por executar um investimento de 120 milhões de euros, dividido entre Lisboa (Lisconte) e Leixões. “Não é por acaso que falamos neste momento na atratividade de Portugal para o gás. Através do mercado americano, somos o país mais próximo de entrada na Europa”. Por sua vez, Nuno Vinha recorda que “as empresas não são contrarias à globalização, mas são aversas ao risco” e quanto à intenção de tornar Portugal num acesso ao mercado europeu, considera que “as sociedades europeias também têm de se reinventar através da importação de trabalhadores para tarefas que os europeus, ou pelo grau qualificação que têm, ou pela vontade, pela ideia que têm, daquilo que querem fazer da sua vida, não querem aderir”.

Por fim, a transição digital e energética também se apresenta como um desafio imperativo para este sector. Aqui, Diogo Vaz Marecos sublinha a importância de “simplificar processos”, de forma a criar o ambiente perfeito que combine operações mais sustentáveis e modernas recorrendo, por exemplo, à automação. Já Nuno Vinha alerta para um efeito indesejado nos processos de inovação: “Se os operadores falarem demasiado em automação, daqui a um ano os sindicatos dos estivadores vão ficar completamente em brasa, quanto mais automação existir nos portes”.

Reveja esta conversa na JETV em www.jornaleconomico.pt

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