A pandemia entrou-nos há um ano pela “casa” dentro. Os jornais, as conversas do comum cidadão ou mesmo o início de conversas de reuniões nas empresas passou a ser sobre o número de infetados, o número de óbitos, o número de lares, o número de escolas, o número de médicos e enfermeiros, o número de investimentos feitos no SNS e, mais recentemente, o número de vacinas e vacinados.

A realidade é que os números são decisivos para a tomada de qualquer decisão. Representam em si factos e realidades, quer se goste do que eles representam quer não. Temos de viver com eles, pois são eles que nos obrigam a pensar e nos ajudam a decidir. E quanto mais cedo os tivermos, mais rapidamente decidimos.

A realidade é que, analisando o que temos ouvido neste último ano, nos ajuda também a identificar vários desafios inerentes ao tratamento de dados, que, inconscientemente, podem levar a más decisões.

Isto é, nem sempre ter dados significa tomar boas decisões.

Em primeiro lugar, se os dados estiverem errados, certamente a decisão tomada terá grande probabilidade de ser também ela errada. O tratamento de dados e a análise das fontes dos dados são cruciais para garantir que o resultado final terá a eficácia pretendida.

Como se costuma dizer garbage in, garbage out. Por isso, ao longo deste ano assistimos várias vezes a comunicações sobre “homens grávidos”, “erro na contagem de casos de Covid-19 no Porto”, “um doente com 134 anos”, entre outros registos. Depois, ouvimos dizer que os dados “não são perfeitos e lembra que há outras prioridades neste momento”, esquecendo-se quem o disse que tomava decisões, diariamente, com base nesses mesmos dados.

Em segundo lugar, temos o tempo que medeia entre a ocorrência do evento e este chegar ao decisor. Isto é, se em situações normais não devemos estar a decidir com base em dados de há uma semana, em situações de urgência nacional menos ainda.

A decisão em situações destas tem de ser tomada com os dados de “agora”. Os de há uma semana podem estar ultrapassados para tomar decisões e, neste caso, salvar vidas. Exemplo disso foi a velocidade de propagação no Natal da variante britânica de Covid-19 e as decisões tomadas terem sido realizadas quase um mês depois (as escolas foram encerradas a 22 de janeiro).

Aparentemente, os dados em tempo real nunca foram uma realidade, nem uma prioridade política e isso paga-se caro.

Vendo de fora, há uma necessidade de reequacionar os planos de processos e arquitetura de dados no panorama do Serviço Nacional de Saúde, tendo por base modelos centralizados e ágeis de sensorização e modular das diversas fontes de informação, sejam elas nos centros de saúde, hospitais ou laboratórios, que permitam caminhar para uma estrutura de Sistemas de Informação em tempo real, onde a tecnologia é um acessório na eficácia e eficiência dos processos.

A consciência política de quem lidera para uma visão estruturada destas arquiteturas de gestão de dados em informação, de informação em conhecimento e de conhecimento em sabedoria, são fundamentais para garantir melhores decisões técnicas e políticas.

Os dados podem salvar vidas e alimentar melhor uma economia!