A pandemia de Covid-19 teve impacto em praticamente todos os sectores da sociedade, com um dos mais afetados a ser o do ensino, repentinamente obrigado a uma atividade à distância, por meios tecnológicos. Na conferência sobre “a adaptação das competências assente na educação”, promovida pelo Jornal Económico (JE) e pela empresa de recrutamento Multipessoal, o secretário de Estado Adjunto e da Educação, João Costa, diz que, no caso do ensino secundário público, a pandemia não trouxe novidades, mas tornou visíveis necessidades e aumentou fragilidades.
“A pandemia, por incrível que pareça, não trouxe grandes novidades ao sistema educativo. Simplesmente, pôs um microscópio por cima do sistema educativo e aquilo que eram necessidades já sentidas tornaram-se visíveis para toda a gente”, afirmou João Costa. “Por outro lado, as fragilidades amplificaram-se”, acrescentou.
A conferência, tramsitida esta quarta-feira, 9 de junho, na plataforma multimédia da JE TV, contou com a participação, além de João Costa, de Céline Abecassis-Moedas, diretora da Formação de Executivos da Católica Lisbon School of Business & Economics; de Pedro Brito, associate dean para Executive Education and Business Transformation da Nova School of Business and Economics; e de Elmano Margato, presidente do Politécnico de Lisboa; e de André Ribeiro Pires, chief operating officer da Multipessoal.
O debate público, na área da educação, foi muito centrado na questão tecnológica, mas o secretário de Estado considera que, nesta vertente, “até houve adaptação muito rápida e resiliência”.
A questão foi a necessidade de “flexibilizar o currículo”, para responder a uma transformação súbita. Foi necessário repensar as formas de ensinar, de avaliar, disse. “Isto tornou visível um trabalho que já estava em curso, de perceber se queremos alunos resilientes, criativos, corajosos, que sabem fazer perguntas”, explica, apontando que a pandemia veio acelerar processos que já tinha sido iniciados. “Quando em 2016 introduzimos as tutorias, são tutorias com pequenos grupos em que o professor desenvolve com estes alunos competências sociais e emocionais. Introduzimos no ano passado mentorias entre pares, ou seja, convocar os alunos com menos dificuldades para apoiar os alunos com mais dificuldades e isto apoio todos”, exemplifica.
Apesar do esforço de adaptação, Elmano Margato considera que esta geração vai ficar marcada em termos de formação pela pandemia.
“O ensino à distância, através das plataformas tecnológicas, pode funcionar e funciona muito bem ao nível da gestão, da cultura, das letras, mas funciona muito mal ao nível da engenharia, mas especialmente ao nível da engenharia que se caracteriza por uma componente prática”, sustenta. “[As plataformas tecnológicas] complementam, mas não substituem”, afiança.
O presidente do Politécnico de Lisboa reconhece que não havia alternativa, mas que é necessário ter consciência dos seus efeitos.
Céline Abecassis-Moedas é mais otimista: “Foi uma situação muito complicada, em que todos sofremos. O lado negativo é que todos sofremos, principalmente os alunos e os participantes na formação. O lado positivo é que respondemos muito rapidamente, tivemos uma pressão enorme e não havia escolha”, disse. Ainda do lado negativo, exemplifica com a falta de contacto (networking) entre alunos do ensino superior, mas do lado positivo aponta a capacidade de lidar com as plataformas tecnológicas. “Aprendemos a trabalhar melhor através das plataformas, que será uma parte do nosso futuro. Estou a antecipar que a formação seja mais blended [mista, presencial e à distância]”, afirmou.
“Aprendemos todos e conseguimos”, sublinha.
No mercado de trabalho, as consequências da panemia foram, mais do que de aprendizagem, de aceleração. “A pandemia só acelerou uma transformação do trabalho, que já existia”, afirmou André Ribeiro Pires, explicando que se tratou de “um momento de adaptação, em que todas as empresas e todas as áreas tiveram de se adaptar”.
“A aceleração provocada pela pandemia também permitiu a aceleração dos próprios indivíduos que procuram o mercado de trabalho. As pessoas que hoje saem para o mercado procuram ainda mais agilidade, para escolherem o que querem fazer, onde querem fazer, em que modelo querem trabalhar”, acrescentou, notando que o processo não só respeita às empresas, mas também às pessoas.
Pedro Brito também refere a mudança de quem sai agor apara o mercado de trabalho, vindo do sistema de ensino. “O que eu acho que está a acontecer e o que aconteceu durante a pandemia é que estão a entrar no mercado de trabalho jovens com uma expectativa muito diferente daquela que outras gerações tinham relativamente ao mercado de trabalho”, afirmou, explicitando: “São jovens que têm uma expectativa de encontrar um mercado de trabalho muito mais alinhado com aquilo que lhes foi ensinado. Dou um exemplo: preparamos os jovens para um mercado mais focado em temas de inclusão, sustentabilidade, questões relacionadas com o propósito, e, depois, não encontramos, de uma forma tão generalizada – porque existem muitas empresas que já trilham este caminho -, mas o mercado de trabalho ainda não tem este pensamento, de alinhar o propósito da empresa com o dos colaboradores”, às vezes até definir qual é o propósito da empresa.
“Os jovens estão preparados para um mercado de trabalho que ainda não existe”, concluiu.
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