No último domingo, o grau aumentativo do substantivo “panela” pode muito bem ter entrado para o universo das novas palavras admitidas no dicionário de língua portuguesa, pelo menos no Brasil. Pode apontar: “Panelaço”, nome masculino, coloquial para barulho ensurdecedor de panelas a chacoalhar nas janelas, resultado de um protesto ao discurso de um político em horário nobre na televisão.
No Dia Internacional da Mulher, Dilma Rousseff dirigiu-se aos brasileiros, num discurso que acabaria por se tornar simbólico do descontentamento dos brasileiros com o atual governo. Na declaração à nação, a presidente admitiu que o Brasil passa por dificuldades, que segundo a própria resumem-se a um “momento diferente dos últimos anos”. O que chamou verdadeiramente a atenção foram os motivos que Rousseff apresentou para a atual conjuntura do país. Segundo a presidente, a crise (palavra que Dilma tem dificuldade em utilizar) é consequência da fragilidade financeira mundial e da “maior seca da História”. As referências a escândalos como o da Petrobrás foram subtis ou inexistentes e, por isso, não ajudaram a esclarecer nada.

É neste cenário que Dilma aguarda (imagino que extremamente ansiosa) o próximo domingo (15 de março), dia para o qual estão marcadas várias manifestações contra o governo e, sobretudo, anti-Dilma. Se as expectativas se confirmarem, teremos ruas repletas de pessoas pedindo o fim do mandato e o impeachment (destituição) de Dilma. E o ponto chave é que, desta vez, o desejo de 51 milhões de brasileiros, que escolheram votar em Aécio há pouco mais de quatro meses, pode realmente acontecer. É que além do descontentamento do povo, a fragilidade política do governo petista é cada vez maior e basta a última gota de água para o copo transbordar.

Recentemente escrevi um texto sobre a crise entre o PT e o PMDB, o suposto aliado de Dilma. Essa crise alastrou-se em poucas semanas. O isolamento político da presidente Dilma Roussef, já evidente nos últimos meses, aumentou ainda mais na sexta-feira passada, com a divulgação da lista dos políticos que serão investigados pela Polícia Federal, na Operação Lava Jato. Na tão aguardada lista, simplesmente apareceram os dois principais nomes do Legislativo: Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados e Renan Calheiros, presidente do Senado. Ambos do PMDB.

Os dois congressistas tremeram quando viram os seus nomes na nefasta lista do Procurador Geral da República. Na hipótese de serem inocentes, estão inconformados por terem sido listados. Na hipótese de serem culpados, a indignação seria por Dilma não os ter livrado do escândalo público. Culpados ou inocentes, a verdade é que o PMDB crê no “dedo de Dilma” nesta lista.

O primeiro reflexo disso – e imediato – foi o fato de Calheiros ter começado a criar dificuldades nas aprovações das medidas de ajuste fiscal de Dilma. Porém, este tipo de retaliação será os menores dos problemas para ela e o PT. Vale lembrar que o vice-presidente de Dilma – herdeiro direto ao “trono” – Michel Temer, é do PMDB. E vale também lembrar que, apesar de Dilma já reunir uma série de requisitos para ser destituida, do ponto de vista jurídico, o impeachment só ocorre realmente a partir de uma articulação política. Assim, o que parecia absolutamente improvável há poucos meses, começa a ganhar forma. Começa, aliás, a fazer sentido, a propaganda enigmática veículada há 2 semanas.

Se o grau aumentativo do substantivo “manifestação” tornar-se viral no domingo, é quase certo que sentar-me-ei na próxima semana para escrever sobre o futuro político do Brasil.

Juliana Pereira Martins
Jornalista
Correspondente no Brasil