Foi a 13 de abril de 1961 que Salazar ordenou “para Angola, rapidamente e em força”, após a revolta do mês anterior que deu início à inútil e injusta guerra colonial, um conflito cujo desfecho era conhecido e que só viria a terminar em 1974. Uma frase maldita mas que encerra uma estratégia – que falhou em 360 graus.

Como escreveu há dias o historiador Rui Ramos no “Observador”, na verdade, a “descolonização” nunca ocorreu. O colonialismo perdurou em Angola com a subjugação do país à URSS sob a ocupação das tropas cubanas. A guerra prosseguiu, entre angolanos, até 2002. Depois das misérias da guerra, a miserável paz. Os efeitos da pilhagem estenderam-se até Lisboa, Londres, Amesterdão, Nova Iorque e tantos outros locais com regulamentação supostamente rigorosa, alguns mais eficazes do que outros, no combate à fraude e à corrupção.

Tivemos sorte que a divulgação dos documentos não se tivesse chamado “Lisbon Leaks”, mas a fama de país onde a corrupção está muito presente só poderá ter-se acentuado, descendo de um nível que já não é bom mais alguns lugares no ranking mundial. “Portuguese banker named in Isabel dos Santos probe found dead” era o título do “Financial Times” no dia 23 de janeiro. Os danos reputacionais de uma notícia destas não podiam ser mais tenebrosos.

Qual o impacto dos “leaks” na moral pública portuguesa?Desconfio que o resultado seja mau. É desolador: milhões de portugueses honestos estigmatizados na sua honra pela cupidez de uns quantos e pelo facilitismo, subserviência e comodismo de outros tantos.

É indispensável que todos os poderes públicos portugueses – Presidente da República, Assembleia da República, Governo, sistema de justiça – não só condenem a corrupção a uma só voz, como atuem veemente e continuadamente, sem tibieza e sem demora, contra a utilização de Portugal, das suas empresas e dos seus inocentes empregados, como veículos de lavagem de dinheiro ou de outros esquemas ilegais.

Como escreveu Henrique Monteiro no “Expresso”, há um irritante “que consiste em não cuidarmos de saber a origem do dinheiro dos que aqui, ou connosco, investem.” Na banca, esse cuidado chama-se compliance mas, como se viu, não funciona.

É preciso recriar a esperança de que Portugal se irá salvar porque os portugueses assim o querem. Mas sem liderança e exemplo confiável será difícil levantar a moral e estimular a energia dos portugueses. É preciso que os poderes públicos sugiram o caminho através da palavra, da ação governativa e da legislação adequada para onde a energia dos portugueses deve ser orientada.

África, e não apenas as antigas colónias, deverá constar nos planos de expansão das empresas, tal como o Sudeste Asiático ou os EUA. Mas que não haja hesitação nem ambiguidade: o eixo estratégico deverá estar na Europa. E Europa deve deixar de ser apenas uma palavra utilizada em slogans eleitorais para passar a significar o desiderato nacional, como devia desde que em 1985 Mário Soares assinou o tratado de adesão às Comunidades Europeias.

A Europa, entendida não apenas como um mercado, ou como a entidade política e geográfica de que somos membros através da União Europeia e do Euro, mas como o espaço sociocultural de que fazemos parte e onde queremos progredir.