Este livro e esta viagem são a sequela de uma outra viagem, feita em 1979, aos mesmos quatro países, numa altura em que o autor não sabia quase nada sobre o Islão.
“Tinha muitas vezes a sensação de que Jacarta era uma versão, talvez menos elegante, daquilo que o Irão teria sido antes da revolução: tão grandiosa e esmagadora que parecia errado ver o embuste e imaginar a decadência ou o colapso da grande cidade. Mas a Teerão que visitei em Agosto de 1979, seis meses após a revolução, parecia-se com essa cidade imaginada: uma metrópole moderna, criada por uma riqueza imensa, com a vida miraculosamente suspensa”.
Ao contrário do que lhe é habitual, Naipaul, enche-se de curiosidade e paciência e, literalmente, mergulha na vida e cultura das pessoas que escolhe entrevistar; ouve-as, tira notas e faz perguntas, algo que é exatamente o oposto das inúmeras histórias que nos chegam sobre o autor, conhecido pelo seu feitio difícil, extrema arrogância e autoconvencimento. A conclusão que tira desta extraordinária experiência é que as pessoas que encontrou e com quem falou, de forma aberta e sem preconceitos, não são assim tão diferentes de si próprio. O livro, contudo, suscitou uma hostilidade quase visceral junto de nomes como Edward W. Said, conhecido sobretudo pela obra “Orientalismo”, editada em Portugal pela Cotovia, que o acusou de perpetuar mitos colonialistas.
Nascido a 17 de agosto de 1932, V. S. Naipaul foi Prémio Nobel da Literatura em 2001, 30 anos depois de ter sido galardoado com o Booker Prize por “Um Estado Livre”, e é editado em Portugal pela Quetzal. Para além de ensaios, V. S. Naipaul – que em 1990 se tornou Sir Naipaul – escreve livros de ficção que, desde muito cedo, assumiram uma forte componente política, descrevendo sociedades coloniais e pós-coloniais em processo de descolonização, por vezes com um cariz autobiográfico. Dada a sua ascendência hindu, nascimento e infância em Trindade e Tobago e estudos superiores em Oxford, Naipaul é ele próprio produto de uma já longa globalização que, apesar de o termo ser de utilização recente, existe há muito, e à qual Portugal não é alheia.
A sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante.
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