A questão da Coreia do Norte não é apenas sobre o acesso de um país à tecnologia nuclear, nem da ameaça do seu uso. O que ali está em causa é toda a ordem internacional naquela zona do mundo que, por acaso, reúne das economias mais dinâmicas do mundo, onde também se localiza a potência regional mais proeminente dos nossos dias.

Os cientistas ocidentais não conseguem determinar a extensão do potencial nuclear da Coreia do Norte, dada a voluntária ocultação de dados por parte das autoridades norte-coreanas, segundo os mais recentes dados do SIPRI, um reconhecido think tank sediado em Estocolmo, Suécia. A extensão de domínio da tecnologia nuclear e o seu potencial uso mantêm-se desconhecidos.

No contexto internacional, a Coreia do Norte não colhe simpatias de nenhum setor, incluindo os seus antigos aliados. Prova disso são as sanções económicas em que a própria República Popular da China alinhou e a declaração conjunta dos BRICS (África do Sul, Brasil, Índia, República Popular da China e Rússia, ou seja, dois dos países que no Conselho de Segurança têm defendido uma solução negociada).

O que move a Coreia do Norte, talvez o país mais isolado internacionalmente no mundo? A viver numa ditadura de caráter quase monárquico, em que três gerações sucessivas governam o país sem qualquer oposição ou direito a crítica, como reage o povo a esta situação? Estas são as questões que todos os Estados envolvidos numa possível solução para o conflito não têm conseguido responder. Neste momento, a Coreia do Norte já está isolada e a sua população vive em regime de assinalável pobreza, quando comparada com os seus países vizinhos, ou seja, tudo o que possa vir adiante, será muito diferente do que já existe?

Kim Jong-un sabe que está isolado. Também tem conhecimento do modo de vida dos seus dois vizinhos: a Coreia do Sul, um estado capitalista, com uma economia pujante, e a República Popular da China, um país socialista que se integrou na economia de mercado internacional com desenvolvimento e crescimento económicos assinaláveis nos últimos anos. O dirigente norte-coreano sabe que o seu regime está condenado ao fracasso a longo prazo. Também sabe que a sua única tarefa neste momento é a manutenção do poder.

Sabendo disto ou devendo saber, os EUA limitam-se a uma atitude paternalista e apolítica, baseada no termo “paciência”, inúmeras vezes repetida no Conselho de Segurança, como se se tratasse de um progenitor que está a perder a tolerância para com o seu filho. Até porque esta escalada é boa internamente tanto para Trump como para Kim Jong-un, que alimentam os nacionalismos exacerbados de que necessitam para a sua deriva política. Curiosamente, estes dois líderes têm exatamente o mesmo objetivo: a manutenção do poder no imediato.