A julgar pela amostra que me é dada pelo Instagram, devo ser o único português que não tirou férias estivais. Até Marcelo meteu uns dias, segundo me diz a selfie tirada por um amigo na praia do Gigi.

Ainda pensei em tirar uma semana, mas o prazo da tese e aquele artigo para rever não deixaram. O resultado desta decisão está a ser um verão cheio de FOMO (fear of missing out). FOMO é um tipo de pensamento contrafactual: é imaginar como teria sido a minha vida se, em vez de ter ficado a escrever aquela nota de rodapé, tivesse ido ao concerto dos Arcade Fire em Paredes de Coura, ou àquele festival de meditação em Idanha-a-Nova, ou aos bailinhos de Nossa Senhora da Conceição, em Coina-a-Velha, mesmo ali ao lado de casa. É a ansiedade social provocada pela ideia de que outros se estão a divertir mais do que eu (o que, convenhamos, não é difícil).

FOMO é também aquilo que tem levado muitas empresas a investir somas avultadas na tecnologia blockchain. Não falta quem profetize que a blockchain vai ser a maior revolução tecnológica desde a Internet, que vai reinventar a banca, acabar com as fraudes eleitorais, ou transformar a gestão da cadeia de abastecimento. O medo de ficar de fora da festa da blockchain explica que instituições financeiras como a JP Morgan andem a gastar milhões de dólares em investigação e projetos-piloto, numa altura em que ainda é difícil distinguir o hype da realidade.

A blockchain tornou-se conhecida por ser a tecnologia por trás da criptomoeda Bitcoin, mas pode, em teoria, ser implementada a mais ou menos qualquer coisa que possa ser registada numa base de dados. Uma blockchain é uma espécie de livro de registos acessível ao público, permanentemente atualizado e gerido não por uma autoridade central, mas por múltiplos computadores espalhados pelo mundo. A inexistência de uma versão centralizada da informação registada faz com que esta seja praticamente imune à adulteração.

São muitos os projetos de blockchain já anunciados e potencialmente revolucionários. A De Beers, por exemplo, planeia disponibilizar a “blockchain dos diamantes” até ao final do ano, com o objetivo de combater o problema dos diamantes de sangue. A tecnologia permitirá, em teoria, rastrear de forma fidedigna o percurso do diamante desde as mãos do mineiro às do polidor e do joalheiro, ficando os vários movimentos registados e acessíveis através da blockchain. O mesmo se pode aplicar a qualquer produto cuja proveniência seja de interesse para o consumidor, como os produtos (supostamente) biológicos nas prateleiras dos supermercados.

A verdade, porém, é que, apesar das expectativas inflacionadas e dos milhões investidos, estamos ainda à espera da primeira aplicação prática da blockchain (além da Bitcoin) com impacto significativo e comprovado numa indústria ou no nosso quotidiano. No conhecido hype cycle da Gartner, consultora americana especializada no estudo de tendências tecnológicas, a blockchain já se encontra a atravessar o chamado “vale da desilusão” – uma fase caracterizada pela deflação de expectativas causada por notícias de tentativas falhadas de implementação da tecnologia no mundo real.

Mas esta fase de desencantamento não significa que as empresas se devam abster de explorar o impacto que a blockchain pode vir a ter nos seus sectores. É que nestas coisas da competitividade tecnológica, o FOMO pode ter efeitos benéficos. Já quanto à minha conta de Instagram, nunca é demasiado tarde para a fechar.