“Então, caro Luís Montenegro? Sempre fico como cabeça de lista às eleições Europeias?”, pergunta o Sr. Moreira, inquieto.
“Vai para o Bugalho!”, replica Montenegro. Moreira, de olhos esbugalhados, responde incrédulo: “O Luís, não me mande para esse sítio! Não lhe admito!”. “Não é nada disso!”, diz Montenegro. “O lugar de cabeça de lista vai para o Sebastião Bugalho!”.
“Quem?”, diz Moreira com os olhos agora também raiados de sangue. “Para o Bugalho? Está a gozar comigo! Vai-me trocar por ele? O jovem não tem experiência nenhuma em lugares de responsabilidade!”, diz Moreira desapertando o nó da gravata. E continua disparado: “O Bugalho passa a vida a exaltar-se nos debates de forma agressiva, não ouve ninguém, não revela inteligência emocional alguma… Acha que isto são boas qualidades para um cabeça de lista ao Parlamento Europeu? Olhe que o estilo de debate na Europa não é o mesmo que se pratica aqui na TV portuguesa, e o tempo de antena é escasso.
“As coisas são muito mais consultadas e negociadas nos bastidores e é preciso uma boa dose de experiência e diplomacia. E tudo em língua estrangeira, que não sabemos da sua fluência! Luís, peço-lhe que reconsidere. O Parlamento Europeu não é lugar para jovens cheios de si, com tiques estranhos.
“O Bugalho tem uma imagem idealizada de si próprio, autoproclama-se o melhor naquilo que faz e agora até já se compara a Gabriel Attal, primeiro-ministro francês, a Cavaco Silva, Durão Barroso… Onde é que isto vai parar? Está a criar um monstro!”, continua Moreira, já sem fôlego. “Não tem experiência internacional, nada”, conclui.
“Caro Moreira…”, diz Montenegro, com ar pensativo. Há gente que também acha que eu sou um bocado rural e nem por isso deixo de ser primeiro-ministro! Vai ver que o Bugalho vai regressar de Bruxelas um diplomata cosmopolita, capaz de navegar com mestria as águas profundas e turvas da alta política! Por essa altura já só se deve comparar com Jacques Delors!”.
“Mas está a falar a sério?!”, balbucia Moreira. “Claro que não!”, retorquiu Montenegro. “Sou rural, mas não sou burro! O impacto dos eurodeputados portugueses no rumo dos acontecimentos da Europa tende para zero. O Bugalho é uma nomeação para consumo interno! E como costumam dizer na minha terra – Para quem é, Bugalho basta!”.