Recentemente, um amigo estrangeiro, de passagem por Lisboa, contava-me, verde de cólera, que tinha perdido o avião. Tudo porque não tinha conseguido um táxi para o aeroporto, por culpa da greve dos taxistas, que se prolongava há já vários dias.

Estupefacto e muito exaltado, explicou-me que fazer greve era para os táxis a melhor maneira de enviar diretamente os clientes para os braços da Uber e que acreditava, sinceramente, que podia mesmo tratar-se de uma qualquer operação de marketing conduzida por esta companhia americana diretamente de São Francisco.

Isto porque não era crível que num país como Portugal, governado por uma coligação de esquerda, um movimento de greve espontâneo se pudesse eternizar, sem que o Governo conseguisse encontrar uma solução rápida para responder, ainda que, parcialmente, às reclamações dos grevistas.

Os governos de esquerda, além de manterem a ordem e a liberdade de circulação, devem prioritariamente ter em conta as reivindicações dos trabalhadores. E questionou: “Não é assim? Não é para isso que foram eleitos?”

O meu amigo estrangeiro apanhou outro avião e a vida da capital retomou o seu curso normal. Contudo, esta normalidade não durou muito, dado que nas semanas seguintes uma outra série de greves veio perturbar a doçura do final da estação estival.

Os enfermeiros, os médicos, os maquinistas da CP e do Metropolitano, os professores, as forças de segurança, os bombeiros, os estivadores, os oficiais de justiça, os funcionários públicos em geral e até os juízes não se coibiram, de forma muito musculada, de expressar a sua insatisfação e expor as suas reivindicações ao Governo português de esquerda. Mas, afinal, o que é que todas estas pessoas reclamam que não tenham já?

O que é que pedem a este Governo, dito progressista, que não lhes tenha sido já dado ou prometido? Com efeito, eles não exigem mais do que a revalorização das suas condições de trabalho e, consequentemente, a retribuição correspondente. E este é o grande paradoxo!

Os trabalhadores em geral e, sobretudo, os funcionários públicos, reclamam junto de um Governo socialista-comunista que, numa predisposição quase genética, os devia defender e não fingir uma atenção que não lhes concede. Então, em procrastinação, o pródigo Governo de esquerda promete, de novo, dias melhores, com novas aleluias que começarão, como é evidente, logo a seguir às próximas eleições legislativas. E tendo em vista este objetivo, aprova e distribui um Orçamento do Estado ruinoso, que não leva em conta o futuro do país e que, por sua vez, trará muito mais conflitos sociais do que aqueles que irá resolver.

O direito à greve é ​​um direito inalienável, mas não seria expectável que este Governo de esquerda tivesse tanta contestação, dado que é suposto defender os direitos das classes trabalhadoras, as quais, sentindo-se profundamente enganadas vão, seguramente, punir nas urnas comportamentos que negam todas as promessas inerentes à sua falsa e postiça matriz ideológica, que apenas tem como finalidade manter o poder, mesmo que contra os interesses de Portugal e dos portugueses.