Há cerca de dez anos, o saudoso Anthímio de Azevedo, de que já falei aqui, formulava a seguinte conclusão (cito de memória): em 2025, a Península Ibérica deixará de ter água potável. Segundo ele a razão de tal inevitável conclusão estaria na progressiva deslocação para sudeste do famoso anticiclone dos Açores, e por via disso da barreira que se criava à deslocação das frentes frias (que trazem chuva) em direcção à Península. Em compensação, as Ilhas Britânicas teriam excesso de chuva. Pois é exactamente isto que, agora, nesta prolongada seca, se verifica. Basta ver os programas de meteorologia da TVE (por cá nada disto é explicado) para se perceber o que está a ocorrer e confirmar a previsão de Anthímio.
Terá isto que ver com alterações climáticas? Seguramente. O certo é que a afirmação não foi um exercício de adivinhação, como parecem ser alguns dos recentes boletins meteorológicos do IPMA, mas uma opinião de um verdadeiro cientista. É claro que 2025 não é amanhã, é hoje. Mas ninguém lhe ligou nenhuma.
Ora, acontece que se o país vive em seca extrema, os políticos, a quem compete decidir, tomar providências e antecipar os problemas, parecem tolhidos por paralisia extrema. Não há nenhum sinal de que exista um plano de emergência, nenhuma indicação certa de que existam soluções para evitar a catástrofe, nenhuma atitude sequer de que estão a encarar a situação a sério. E é claro que medidas de médio prazo preparando o país e o orçamento para soluções como aquelas que já existem nas Canárias, quanto à dessalinização ou à gestão mista de recursos hídricos, nem em sonhos.
Há coisa de três semanas apareceu o ministro do Ambiente ao lado do ministro da Agricultura, dizendo que o Governo vai lançar uma campanha para poupar água. O Presidente da Câmara de Viseu (e o de Nelas e de Mangualde e por aí fora) deve ter ficado estarrecido ao ouvir isto. Ele que anda a pagar camiões cisterna para que os seus munícipes tenham – até quando? – uma réstia de água nas torneiras, deve ter pensado: poupar a água que eu não tenho? Aliás, da referida campanha não dei rigorosamente por nada. Só pode ter sido uma daquelas encenações em que os comediantes que nos governam se especializaram…
A gestão das águas é uma matéria nebulosa entre nós. Sabemos que boa parte da mesma está entregue às autarquias. A verdade é que ainda na recente campanha eleitoral autárquica, o que se lia nos cartazes eram promessas para baixar as taxas de consumo de água, como se vivêssemos em abundância. E investimentos na rede para combater os desperdícios? Nada.
Tudo isto exigiria, não duvido, uma intervenção disciplinadora e coordenadora do Governo Central. Mas é aí que a situação piora, se possível. O actual Governo, em matéria de funções básicas do Estado, ou seja aquelas em que se garanta um mínimo de condições de vida, liberdade e segurança para os portugueses, provou até agora ser omisso e irresponsável. E como só pensa em eleições, nada fará para perturbar ou incomodar os portugueses aplicando medidas drásticas para, pelo menos, atenuar o que o nos espera. Empurra para a frente e espera que chova. Esperemos bem que chova, e muito, porque caso contrário não vejo ninguém que nos acuda…
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.