Na semana passada, Ricardo Araújo Pereira satirizou com mestria as intervenções do Presidente da Câmara de Lisboa e de membros do Governo na abertura da décima edição da Web Summit. E, de facto, são este tipo de discursos — com melhor ou pior inglês — que me provocam aquele desconforto de vergonha alheia.
O exagero, a falta de autenticidade e a desadequação das metáforas e histórias são evidentes e lamentáveis. Ainda mais quando falamos da décima edição desta feira de vaidades.
Portugal continua bem atrás no ranking de unicórnios por milhão de habitantes, comparado com países de igual ou menor dimensão. É óbvio que não é a Web Summit que vai transformar Portugal numa fábrica de unicórnios — a menos que sejam de porcelana! Aliás, das atuais oito empresas com estatuto de unicórnio, apenas a Sword Health foi fundada depois da primeira edição do evento.
Não falando em unicórnios, é verdade que surgiram algumas boas startups, como a Automaise, a Endiprev e a Alice IA. Naturalmente, é preciso galvanizar o empreendedorismo em Portugal, mas nada substitui o investimento na educação, na ciência, na inovação e, sobretudo, na criação de instituições de suporte e numa mudança de mentalidade. Não chegaremos lá com parolices e grandes anúncios. É
o trabalho sério, persistente e de longo prazo que gera resultados sustentáveis.
Este episódio fez-me recordar outro momento de constrangimento. A Embaixada de Portugal em Londres convida-me, por vezes, para eventos. Já não sei precisar a data, mas alguns meses após o Brexit fui convidado para uma grande iniciativa com mais de 200 pessoas — incluindo investidores, empresas britânicas e outros dignitários. O objetivo: promover Portugal como destino de investimento, aproveitando as oportunidades abertas pelo Brexit nos serviços financeiros e noutros setores.
A apresentar, altos quadros da CMVM, do Banco de Portugal e, creio, também da Associação Portuguesa de Analistas Financeiros. Correu tão mal, mas tão mal, que quase me escondi na última fila. O inglês dos oradores era péssimo. Um deles apresentou os dez compromissos com investidores e empresas e, em vez de dizer “we commit”, repetia “we compromise”. Era a risota. Outros, em vez de salientar vantagens comparativas — custos, rapidez regulatória — falavam do sol e da gastronomia com o mesmo peso que critérios económicos e regulatórios.
Todos começaram as apresentações com longas referências ao Tratado de Windsor e à “mais antiga aliança do mundo”, ao ponto de o último orador brincar dizendo que também tinha algo sobre o tratado, mas ia passar à frente. A parolice portuguesa parece ignorar a máxima de Thomas Edison: “Genius is 1% inspiration and 99% perspiration”.



