Os recentes resultados eleitorais na Europa constituem razão bastante para refletir sobre o nosso sistema partidário. De Itália à Grécia, de Espanha a França e da esquerda à direita, as escolhas dos cidadãos têm provocado modificações profundas nos sistemas partidários.

Estas tendências têm um significado relevante, contudo importa não generalizar. Os cidadãos estão mais conscientes do valor do voto e utilizam-no com vigor para manifestar a sua insatisfação com o sistema.

Incumprimentos e frustrações obrigam a encarar as responsabilidades políticas com humildade, empenho e menos complacência. Justificar decisões e resultados, assumindo responsabilidades. Com verdade e autenticidade e não com leveza, desculpas ou estratégias de comunicação.

Governos têm sido castigados eleitoralmente quando fazem o que devem fazer. E partidos que tiveram sucesso num momento, caem irremediavelmente, quando passam a ser iguais.

Em Portugal, o sistema partidário têm-se demonstrado resiliente. Os partidos tradicionais estruturados mantem o seu peso, práticas e organização. À esquerda e à direita. Mesmo a denominada “geringonça” não é inovadora, exceto pela aceitação da esquerda radical na partilha de poder, ao invés de continuar apenas a esgrimir palavras de ordem e condicionamento.

O nosso sistema é recente, edificado sobre o 25 de Abril, com todas as suas idiossincrasias. Além de ainda existir uma forte marca psicológica de esquerda, a organização do sistema político condiciona soluções governativas exigindo maiorias parlamentares, mesmo instáveis e negociadas, em detrimento do resultado eleitoral efetivo ou de concretização de programas publicamente assumidos.

Esta rigidez não significa que algo não tenha de mudar. Pelo contrário, os partidos devem considerar como prioridade, como alguns já praticam, a criação de novos mecanismos de participação real em audição de vontades, em escolhas e decisões de investimento.

Os partidos devem demonstrar que são capazes de se regenerar. E essa responsabilidade deve caber às respetivas direções, dado que as suas estruturas quererão sempre manter o controlo. A participação deve ser regra e não exceção. Sob pena do sistema atual se tornar refém de populismos e populistas.