Cada vez mais os partidos tradicionais perdem terreno face a novos partidos que vão surgindo, a maior parte dos quais ancorados em ideologias extremadas ou mesmo numa miscelânea de ideias sem qualquer espécie de sustentação.

A situação não é, de forma alguma, um exclusivo nacional. Os novos partidos aproveitam o crescente descontentamento popular para captarem votos de uma franja da população que cada vez reconhece menos mérito aos partidos que normalmente captavam a quase totalidade dos votos dos eleitores.

Hoje, confrontados com novos problemas, com um futuro que parece cada vez mais sombrio, os eleitores recusam-se continuar a apadrinhar aqueles que até há pouco tempo granjeavam a sua simpatia, optando pela abstenção, que cresce para níveis outrora impensáveis, ou entregam o seu voto a novos partidos que prometem uma rutura com o status quo vigente.

Na nossa vizinha Espanha, depois do aparecimento do mais moderado Ciudadanos e do partido radical de esquerda Podemos (o Bloco de Esquerda dos nossos vizinhos ibéricos), surgiu, agora, o Vox, defendendo ideais de extrema-direita. Juntos, já representam mais de 35% dos votos dos espanhóis, o que não deixa de ser espantoso num país que tradicionalmente oscilava entre o PSOE (correspondente ao nosso Partido Socialista) e o PP (correspondente aos nossos PSD/CDS).

Em Portugal, parece querer ir-se pelo mesmo caminho. Depois do aparecimento do Bloco de Esquerda, que resultou da aproximação de três forças políticas – a UDP, o PSR e a Política XXI – às quais posteriormente se juntaram outros movimentos, reunindo tendências de esquerda radical, vimos surgir no panorama político o PAN (Pessoas, Animais, Natureza) que conseguiu eleger em 2015 o seu primeiro deputado à Assembleia da República e que teve uma votação bem mais expressiva há poucos dias nas eleições para o Parlamento Europeu.

Os descontentes e, sobretudo, os jovens, começam a rever-se nestas novas forças partidárias, que, embora assentem, em larga medida, em conteúdos programáticos irrealistas e marcadamente contestatários, captam a atenção de um conjunto de pessoas que são críticas das sociedades dos nossos dias, valorizando ideias que até aqui eram completamente menosprezadas pelos cidadãos.

Os direitos das minorias (como, por exemplo, da comunidade LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais), os direitos dos animais, o ambiente e outras questões que até há bem pouco tempo eram completamente secundarizados ou mesmo marginalizados, começam a marcar a agenda política, numa época em que a tolerância e preocupação com o futuro do Planeta convocam a Humanidade.

Vivemos tempos de mudança. Interessantes, sem dúvida, mas perigosos. Partidos que habitualmente representavam faixas consideráveis da população, como o PCP, em Portugal, começam parecer anquilosados, não apresentando argumentos para ombrear com os partidos da moda, que falam de temas novos, mais apelativos e mais mediáticos.

A confirmar-se o rumo dos últimos anos, podemos ter pela frente um sistema em que o tradicional bipartidarismo (PS-PSD) cede o seu espaço a uma palete de partidos mais diversificada, que advoga novas ideias, que recolhe novas simpatias, mas que, dificilmente, se poderá sentar nas cadeiras do poder se quisermos continuar a pertencer ao projeto europeu em que alinhámos em 1986.

É preciso fazer perceber os eleitores que vários dos movimentos e partidos contestatários se esgotam em si próprios, não se assumindo como alternativas válidas com vocação de poder. Atribuir-lhes mais importância do que aquela que realmente merecem poderá fazer-nos cair num precipício capaz de pôr em risco a democracia que tanto nos custou a conquistar.

Têm a palavra os chamados partidos do arco da governação, que devem encetar um esforço de modernização e de aproximação às populações, não as fazendo desencantarem-se ainda mais da política, que, para muitos, representa apenas meros jogos de interesses.