Dia 26 dão-se as eleições alemãs, que marcarão o futuro da União Europeia. Aquelas que foram vistas como as mais enfadonhas eleições de sempre ganharam nos últimos tempos um novo interesse, com os sociais-democratas a liderarem nas sondagens, com 25% das intenções de voto, contra 20% para a CDU e 16% para os verdes, a pouco mais de quinze dias do acontecimento.

Scholz é preferido por 43% dos alemães, Laschet por 16% e Baerbock por 12%. Laschet pode ter o pior resultado de sempre da CDU/CSU e a sua liderança dos conservadores ser curta, pois se perder não só será fortemente criticado pela CSU, parceiro bávaro da CDU, como também internamente estará debaixo de fogo.

Tudo está mais complicado por, na base das sondagens, a Alemanha ir ter um governo de coligação de três partidos. Antecipam-se largos meses de negociações para a formação de governo, o que quer dizer que Merkel não fará as malas tão cedo: em 2017 as negociações levaram 171 dias, quase seis meses.

Muito mudou nessa altura que não facilitou a negociação (veja-se o artigo de Hornung, Rüsenberg, Eckert e Bandelow no “Negociation Journal”, em 2020); tudo se passou com uma lógica diferente do tradicional, com as questões intrapartidárias a serem primordiais. Mas é esta mesma lógica que voltamos a ter agora.

O SPD, se ganhar, não se coligará com a CDU, pois as diferenças são muitas, desde a política fiscal e investimento público a, na frente europeia, dar passos para uma união fiscal, sem contar que o país vai redefinir a sua política para o clima em 2022 por imposição do Tribunal Constitucional. O cenário mais provável é fazê-lo com os verdes e o Die Linke, muito mais à esquerda.

Merkel jogou a campanha de 2017 numa altura de forte crescimento e baixo desemprego, nos últimos tempos do segundo milagre económico alemão. Laschet não tem esta sorte; está acossado, e tenta sobreviver colando Scholz a uma imagem de extrema-esquerda.

Nomeou os seus seis conselheiros, e desafiou Scholz a fazer o mesmo, atrás do “diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és.” Um destes dias vai ressuscitar as meias vermelhas da campanha de Kohl, em 1994. Nada de mais, já foram tema nestas eleições o embelezamento de currículos e os risos despropositados.

É preocupante, com a situação tão indecisa, os candidatos poderem comprometer-se em recentrar a Alemanha em si própria, afastando-a do seu papel europeu. Até agora, a CDU/CSU tem defendido na frente europeia o “weiter so”, ou mais do mesmo. Isto significa regressar às velhas regras orçamentais em 2023, sem transição, quando estaremos todos substancialmente mais endividados e as taxas de juro mais altas.

As assimetrias testarão a solidariedade quando a coesão europeia é necessária. Um bloco franco-alemão forte, que reconheça que o futuro da Europa se joga em conjunto, é crucial também para os alemães. Esperemos que a ponta final destas eleições não nos afaste desta via.