De um Governo socialista, parlamentarmente suportado por dois partidos de extrema-esquerda, ficar-se-ia à espera que adotasse um conjunto de políticas que beneficiasse principalmente os mais desfavorecidos. No entanto, nos últimos tempos, agora que se vão aproximando as eleições legislativas, temos assistido à implementação de medidas adotadas por razões de simples marketing político, destinadas a caçar o voto de milhares de eleitores que, em vésperas de eleições, se deixam seduzir pelas benesses atribuídas pelo Governo.

De entre as medidas claramente populistas que têm sido tomadas pelo atual executivo, mas que arrepiam qualquer socialista que se preze, estão a gratuitidade dos manuais escolares para o ensino básico e secundário, a redução das propinas no ensino superior público e a diminuição do preço dos passes sociais para as Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto, medida que se prevê venha a estender-se a todo o país.

As justificações apresentadas para estas medidas podem satisfazer os menos atentos, que considerarão as mesmas socialmente justas e benéficas para os mais desfavorecidos. No entanto, está longe de ser assim. Os estudantes iniciados em finanças públicas aprendem, desde a primeira aula, que, como os recursos do Estado são finitos e podem ter destinos muito diversificados, têm que se efetuar escolhas, opções, não se podendo dar tudo a todos.

Para que possamos obter algo de que gostamos temos de prescindir de outra ou outras coisas que também nos agradariam. Se alguém, individualmente, não paga para obter um bem ou um serviço ou paga menos do que pagava até aqui é porque outro ou outros, normalmente a sociedade, suportam o custo desse bem ou serviço ou a redução do valor pago pelo cliente/utente.

Nem se diga que a justificação para a atribuição de manuais escolares gratuitos aos alunos que frequentam as escolas públicas do ensino básico e secundário é permitir a igualdade de oportunidades no acesso à educação e a diminuição do abandono escolar, que a redução do valor das propinas tem na sua base a ideia de permitir uma maior qualificação dos portugueses, aumentando a produtividade e a competitividade do país, e de que a justificação para a introdução do passe único é atrair mais utentes para os transportes públicos, reduzindo o tráfego automóvel e melhorando o ambiente.

Do que se trata é de caçar votos. Descaradamente. Pelo timing em que as medidas são tomadas e pela natureza das mesmas.

Se o que se pretendesse, como seria justo e natural, fosse beneficiar as famílias mais carenciadas, produzindo verdadeiras políticas de esquerda, então dar-se-iam melhores condições escolares aos alunos mais carenciados (e apenas a esses), aumentar-se-iam as bolsas de estudo no ensino superior e facultar-se-iam residências universitárias a preços aceitáveis para aqueles que não conseguem suportar as rendas cobradas nas grandes cidades, baixar-se-ia o preço dos transportes muito mais acentuadamente para todos os que não têm rendimentos que lhes permitam pagar os preços atualmente praticados.

Ao decidir pela universalização das medidas, o que o Governo socialista provou, uma vez mais, é que de socialista só tem o nome, usando e abusando da hipocrisia política na ânsia de que os eleitores lhe concedam mais quatro anos à frente dos destinos do país. Passes, propinas e manuais escolares representam três exemplos de medidas populistas, eleitoralistas, mas injustas, significando que todos, mesmos os mais pobres, passem a pagar, com os seus impostos, os benefícios concedidos aos mais abastados.

Como não há nada que se não pague, o Governo tem de conseguir explicar aos portugueses qual a razão pela qual devem, através dos seus impostos, suportar, por igual, os custos de uma parte da educação de ricos e de pobres e dos que, mais ou menos endinheirados, utilizam os transportes públicos.