Perante os resultados macroeconómicos extraordinários têm-se observado as mais diversas explicações, sendo as mais insólitas as que têm origem na Rua de S. Caetano, sede do PSD. Para este partido, o crescimento económico, a redução do desemprego, a queda do défice e a consequente saída do procedimento de défices excessivos são o resultado das políticas do governo de coligação PSD/CDS. Não é só um argumento imbecil; é uma coisa esdrúxula, saída de um daqueles episódios do “Twin Peaks”, onde os mistérios se sucedem, mas nunca se desvendam, no imbróglio de David Lynch.

Quando o PS chegou ao governo, Passos Coelho acusou este partido de reverter as principais orientações da política económica – leia-se reverter o empobrecimento em curso e que fora feito à custa de redução de salários e de cortes nas prestações sociais e pensões.

De acordo com o PSD, a nova abordagem de devolver rendimentos às famílias e aumentar as prestações sociais estragaria tudo o que de bom foi conquistado até essa altura. Não satisfeitos com esta contundência na análise dos fenómenos económicos, o PSD foi ainda mais longe e desatou a enumerar, após seis meses de governo do PS, um conjunto de supostas malfeitorias que, inevitavelmente, já era consequência da decisão irrefutável de mudar as opções políticas e as orientações económicas.

Na prática, a tese do PSD era simples e resume-se da seguinte forma: o que se passar a partir de agora (ao fim de seis meses) é o resultado da governação socialista e, por isso, o PSD lava as mãos dessa responsabilidade. Chegado aqui, e perante a tentativa, algo pueril, de capitalizar o sucesso socialista, é comovente constatar que o maior partido da oposição enfiou-se num buraco, entalou a cabeça no fundo e ainda atirou terra em cima.

Nesta escuridão programática em que o PSD se engasgou, sobra apenas uma certeza: se as hipotéticas previsões de maus resultados propaladas pela coligação PSD/CDS, ao fim de seis meses, eram inequivocamente consequência das opções socialistas, então é um bocadinho estúpido observar o maior partido da oposição, em bicos de pés, a chamar a si resultados ao fim de um ano e meio de governo.