A escola secundária onde eu estudei tinha suportes para esquis. Sim, ficava em Portugal. E não, nunca nevou durante os seis anos em que lá andei. É que Portugal é um país onde não faz muito frio e que tem por hábito importar acriticamente ideias. Assim, nos anos 70, a minha escola veio algures da Suécia (mas não era IKEA), concebida segundo o modelo de área aberta. Claro que, quando eu lá cheguei, nos anos 90, a prática educativa mediterrânica já havia colocado paredes a dividir as salas. Sobreviveram os suportes para esquis, quiçá à espera de uma alteração climática que nunca aconteceu.

Vem-me isto à memória a propósito das restrições que se querem colocar ao alojamento local. É que frequentemente a justificação que me oferecem é a sua existência em outros pontos do globo. Nova Iorque, Barcelona, Berlim, São Francisco ou Amesterdão são algumas das cidades que referem como tendo imposto limites a essa forma de hospedagem. Tudo cidades desenvolvidas e sofisticadas, dignas por isso de cópia. À semelhança das escolas escandinavas.

Quando eu era pequena – bem antes de ir para a secundária, ali pela altura da pré-primária –, se contestava a recusa a um pedido com um “mas a não-sei-quantas também vai!”, logo recebia a resposta “E se a não-sei-quantas se atirar da ponte, também te atiras?”. Este adágio pedagógico fez de mim uma pessoa que se habituou a não aceitar o mero exemplo alheio como razão para (deixar de) fazer alguma coisa. O que não significa dizer que o exemplo alheio de nada serve. Pelo contrário, é bastante útil, mas apenas se conseguirmos discernir entre o que é análogo e o que não o é.

Voltando ao alojamento local. Uma das primeiras coisas que podemos notar é que em diferentes sítios os constrangimentos assumiram diferentes formas. Isso mesmo conclui o think tank R Street, que foi olhar para a regulamentação relativa a arrendamentos de curta duração em 59 cidades norte-americanas. Provavelmente, esta diversidade de regras resulta de uma igual diversidade de situações e condições, a que se tem de atender quando se define uma política. O que representa o alojamento local para o turismo daquele destino? Que riqueza cria? Que externalidades negativas causa? Quais as várias opções para lidar com essas externalidades? Que impactos acarretam cada uma delas?

Estas são perguntas a que importa responder antes de avançar com qualquer tipo de legislação. A isso mesmo apela a OCDE, que refere a necessidade de encontrar um equilíbrio entre os benefícios que a chamada economia da partilha traz e os custos que impõe. E eu junto-me ao seu apelo. É que Maria eventualmente irá com as outras, mas não sem levantar questões.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.

 

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