Qual o papel da comunidade local na definição de respostas para a salvaguarda do património cultural nacional? Esta é uma questão importante principalmente quando se discute, em Portugal, o Plano de Recuperação e Resiliência e há um estratégia de turismo ancorada na inovação definida na iniciativa Turismo 4.0.
Nos últimos anos, os projetos de estudo e salvaguarda do património europeu, têm favorecido políticas globais de promoção de uma visão mais sustentável para o património edificado articulando-o diretamente com a cultura, identidade e memória em contexto local. A salvaguarda do património passa, cada vez mais, pela proteção e incorporação de elementos denominados intangíveis. Como refere John Carman, o objeto patrimonial tem o valor que lhe é atribuído por uma cultura que representa e que o valoriza.
Em 2018, no ano Europeu do Património Cultural, todos nós fomos motivados a descobrir e abraçar a cultura europeia reforçando o sentimento de pertença e bem comum. A iniciativa foi a oportunidade para testar novas abordagens integradas, holísticas e participativas para salvaguardar a gestão do património cultural, desencadeando uma mudança real na forma como protegemos e promovemos o património cultural na Europa.
Os projetos europeus REACH e Interreg Forget Heritage são excelentes exemplos de um futuro desenvolvimento para maximizar os benefícios do património cultural para a sociedade. Princípio promovido, em 2005, na Convenção de Faro. O pilar da sustentabilidade e inovação social é a garantia da criação de ligações significativas entre o passado e o futuro do património edificado, assente em atividades diretamente destinadas a estimular o envolvimento efetivo das comunidades na cocriação de soluções.
Nos vários projetos disponíveis online é notório o incentivo a metodologias participativas que promovam reflexão, colaboração, coautoria e disseminação democrática do conhecimento cultural. Difusão que é essencial à inclusão, diversidade e pluralidade interpretativa, refletindo tanto uma paisagem demográfica variável, quanto o papel fundamental das instituições nas práticas de defesa do património cultural.
Também é evidente o papel da investigação interdisciplinar aprofundada e o uso de metodologias participativas baseadas em ferramentas digitais. Destacam-se o crowdsourcing e as aplicações comunitárias para smartphones ao possibilitarem o diálogo, a partilha e a gestão de informação em tempo real.
A ideia principal é que todas as pessoas que são de alguma forma afetadas por uma decisão têm o direito de se envolver no processo de tomada de decisão. Os vários atores envolvidos na criação de soluções para o património cultural podem participar, criar, publicar atividades como um meio de recolher feedback antes da sua implementação. Nesta perspetiva, a alteração de paradigma pode ser a efetiva sustentabilidade para a pretendida revolução, impulsionada pelas tecnologias inovadoras nos sistemas de produção e nos modelos de negócio globais e locais.
A resposta à questão inicial: é urgente apoiar a investigação profunda da cultura em contexto local e apoiar a implementação de abordagens holísticas de desenvolvimento sustentável para o património cultural nacional assente em instrumentos digitais de participação e codesenho. Este é o património cultural 4.0.